23 de maio de 2018

Frenesi

Frenzy (ING, 1972)

Diret Alfred Hitchcock
Com Barry Foster, John Finch, Anna Massey, Alec McCowen.

Frenesi

Clássico do cinismo. Hitchcock de volta a Inglaterra fechou a carreira em grande estilo com este filme (sem contar o fraquinho Family Plot). Depois da queda produtiva e de bilheteria com a mediana repercussão de Marnie, Cortina Rasgada e Topázio, o diretor encontrou novo vigor na volta a sua terra natal. Frenesi é um de seus melhores momentos pela feliz conjunção de elementos diversos como a morbidez tipicamente britânica (tão marcante na obra do diretor), o domínio técnico para efeito dramático, o cinismo declarado, a perfeita direção de atores e a explicitação que a época permitia.

Na região do comércio portuário em Londres, crimes de estrangulamento são notícia corrente. O chamado "assassino da gravata" faz suas vítimas e assombra a população. E quando o fracassado e desempregado Richard (John Finch, o Macbeth de Polanski) é incriminado após uma briga com sua ex-esposa, precisa se ocultar das buscas policiais. Seu amigo e comerciante local Robert Rusk (Barry Foster) é um dos poucos a lhe prestar ajuda e arrumar um local para ele se esconder. Mas as aparências não duram muito e logo saberemos quem é quem no jogo cinematográfico montado no ótimo roteiro de Anthony Shaffer (O Homem de Palha, Jogo Mortal) muito ao gosto do diretor.

"Cinismo" é a palavra-chave de Frenesi. Com o assassino revelado logo no início da trama, o filme se dedica a confrontar (cinicamente) a atenção do espectador, como uma "pegadinha Hitchcock": as mulheres são desinteressantes, os personagens antipáticos, a face grotesca das vítimas mortas chega às raias da comicidade caricatural e o filme vai ao cúmulo de desorientar o espectador com excesso de humor, conteúdo perigoso para um thriller (como se Hitchcock estivesse se divertindo com nossa expectativa)! O interesse maior acaba recaindo sobre o assassino que é mais interessante e divertido do que os demais personagens e que se converte no "herói narrativo" do filme! Sem o killer, Frenesi não precisaria ter sido filmado!



Frenesi

Então, montada essa estrutura de base, o filme se dedica a um show de domínio técnico em uma narrativa impecável. Tem momentos antológicos do cinema de suspense como a câmera que segue o assassino e sua próxima vítima até a porta do apartamento mas não entra, volta pelo hall vazio até a rua e passa pelos transeuntes enquanto obviamente outro crime está ocorrendo lá dentro! A longa sequência do corpo no caminhão de batatas também é um dos pontos altos, e nesse momento, em uma ardilosa distorção narrativa, somos levados automaticamente a torcer pelo assassino! O filme só escorrega na lentidão das investigações no terço final e na insistência do humor, mas é um clássico do suspense e (melhor ainda) teve importância extra por integrar Hitchcock ao momento de sucesso que o thriller inglês vivia no período.

• Melhor sequência: o citado corpo no caminhão de batatas.
• Surpresa explícita: o crime na agência matrimonial.
• Expectativa genial: a espera pelo grito da secretária, Richard aliviado no esconderijo, e o citado crime off-camera no apartamento.
• Passou muito em nossa TV, mas tão cortado que é sempre uma surpresa vê-lo em seu corte original. 

Black Phillip já sabia 😈😈😈😈

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