"Você foi encontrado lindamente morto num hotel, em consequência de um derrame cerebral. Tudo perfeitamente normal e simples tal qual lhe dissemos que seria. O enterro é amanhã. E depois você será cremado. Alguma pergunta?"
• O Sr. Wilson está cansado de sua vidinha regrada e monótona pós 40 anos: estabilidade financeira, filhos criados, a esposa engordou e ficou mais chata. Então aparece para Wilson uma chance que pouquíssimos tiveram e com a qual todos sonham: a segunda chance na vida, mas como outra pessoa! Ele recebe uma misteriosa ligação de um antigo amigo (que ele julgava morto!) falando de uma certa companhia e do procedimento para chegar até ela. Wilson vai de curioso, mas sua curiosidade já é seu ingresso ...
"Falou-me dos serviços que sua firma presta, mas fê-lo de forma vaga. Insistiu comigo em procurá-lo como um cliente. Disse que isso seria ... um renascimento."
Seconds é mais famoso hoje por causa do filme de John Frankenheimer do que pelos méritos literários do autor. David Ely emprega estilo cuidadoso e bem dosado para sustentar a esquisitice inicial da história que fica entre o drama, a ficção-científica e o suspense. E curiosamente em sua escrita cuidadosa ele insere um imenso vazio existencial muito procedente. Wilson só manifesta insegurança, medo e apreensão pelo mundo novo que lhe é disponibilizado. Sua nova persona nada deve a ninguém, não tem passado nem vínculos. Está totalmente livre! Mas livre de que? E é justamente nessa encruzilhada de existência que a história ganha grandeza (a história sim, o romance nem tanto...).
• O Sr. Wilson está cansado de sua vidinha regrada e monótona pós 40 anos: estabilidade financeira, filhos criados, a esposa engordou e ficou mais chata. Então aparece para Wilson uma chance que pouquíssimos tiveram e com a qual todos sonham: a segunda chance na vida, mas como outra pessoa! Ele recebe uma misteriosa ligação de um antigo amigo (que ele julgava morto!) falando de uma certa companhia e do procedimento para chegar até ela. Wilson vai de curioso, mas sua curiosidade já é seu ingresso ...
"Falou-me dos serviços que sua firma presta, mas fê-lo de forma vaga. Insistiu comigo em procurá-lo como um cliente. Disse que isso seria ... um renascimento."
Seconds é mais famoso hoje por causa do filme de John Frankenheimer do que pelos méritos literários do autor. David Ely emprega estilo cuidadoso e bem dosado para sustentar a esquisitice inicial da história que fica entre o drama, a ficção-científica e o suspense. E curiosamente em sua escrita cuidadosa ele insere um imenso vazio existencial muito procedente. Wilson só manifesta insegurança, medo e apreensão pelo mundo novo que lhe é disponibilizado. Sua nova persona nada deve a ninguém, não tem passado nem vínculos. Está totalmente livre! Mas livre de que? E é justamente nessa encruzilhada de existência que a história ganha grandeza (a história sim, o romance nem tanto...).
Wilson tem tudo à sua disposição e nenhuma disposição em desfrutar o que for. Experimenta vida à beira mar e a imensidão em volta tanto configura o mundo novo a explorar quanto o nada absoluto que o circunda e o caracteriza. A existência enquanto condição não intencional é a chave do romance. Não há motivo para existir. O tormento do homem é tentar encontrar razão alheia a ele próprio para a existência e nessa imensa dúvida o romance navega sem poder fazer muita coisa com a insegurança do protagonista. Se Wilson não tinha muito o que fazer na vida anterior, por que terá na nova?
Com fluência e pouca história, Seconds é circunstancial e não se esforça muito enquanto literatura, uma vez que Ely tenha escolhido a inutilidade da existência como assunto. Ironicamente, sua força está na sua fraqueza!!! É um caso exemplar de livro apenas interessante que rendeu um filme tão bom que superou a própria fonte. As conversas com o velho administrador da empresa ganham muito dramaticamente quando Wilson faz uma avaliação conclusiva de sua vida.
"–Quer saber se eu gostava muito da vida que levava? Bem, senhor, acho isso um tanto difícil de responder. Creio que era uma vida cômoda. Eu não ligava muito para nada. Deixava minha esposa muito só e ela fazia o mesmo comigo. Nunca brigávamos e de uns anos para cá raramente mesmo ... bem, raramente trocávamos muitas manifestações de afeto ...
A voz de Wilson era arrastada. Cerrava os punhos com força num impulso de atirar-se aos pés do velho e de chorar amargamente.
– Assim pois, transformaram-se nisso os sonhos da mocidade – observou o velho com voz mansa."
📚
Leitura radical
Ideia curiosa, mas sem força literária.
•
Leitura passional
Delicioso exercício em paranoia.
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"–Quer saber se eu gostava muito da vida que levava? Bem, senhor, acho isso um tanto difícil de responder. Creio que era uma vida cômoda. Eu não ligava muito para nada. Deixava minha esposa muito só e ela fazia o mesmo comigo. Nunca brigávamos e de uns anos para cá raramente mesmo ... bem, raramente trocávamos muitas manifestações de afeto ...
A voz de Wilson era arrastada. Cerrava os punhos com força num impulso de atirar-se aos pés do velho e de chorar amargamente.
– Assim pois, transformaram-se nisso os sonhos da mocidade – observou o velho com voz mansa."
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Leitura radical
Ideia curiosa, mas sem força literária.
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Leitura passional
Delicioso exercício em paranoia.
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O Segundo Rosto
Seconds - David Ely, 1963
Livraria José Olympio da Silveira - Rio de Janeiro - 1966
190 páginas.
190 páginas.
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