E enquanto o homem apoiava o braço no braço da poltrona, meditando diante do fogo, o fantasma se debruçou sobre o encosto da cadeira, bem perto dele, com a espantosa cópia de seu rosto olhando para onde o seu rosto olhava, e assumindo a expressão que seu rosto assumira.
• Dois contos vitorianos do essencial Charles Dickens, raramente disponíveis em outras coletâneas. Ambas envolvendo aparições e ambas passadas em período natalino, situações recorrentes na obra de Dickens. E mesmo a dimensão do formato de conto não foi impedimento para o minucioso texto do autor e de profundas implicações dramáticas. Em A Assombração (109 páginas) um espectro assume a forma do prof. Redlaw e com ele estabelece uma conversação propondo o esquecimento de seus erros e pesares acumulados pela vida. Mas o esquecimento desse fardo também faz com que o professor se torne amargo, desumano e indiferente à dor alheia.
– Se eu pudesse esquecer de meu erro e meu sofrimento, eu esqueceria.
– Ouça o que ofereço! Esqueça o sofrimento, o erro e todas as preocupações que conheceu. [...] Tenho o poder de extirpar aquela lembrança, de deixar dela apenas traços leves, confusos, que não tardarão a desaparecer – insistiu o fantasma – Dize! Está combinado?
Sugerindo paralelos com a lenda do doppleganger, o autor faz do protagonista na verdade um personagem assombrado pela própria consciência e escolhas sociais. As menções de semelhança entre o espectro e o próprio professor são pistas disso.
O homem vivo e a imagem animada de si mesmo podiam, assim, ser olhados, um após o outro. Uma horrível visão, em um local solitário e remoto de um vazio conjunto de prédios, em uma noite de inverno com o ruidoso vento empreendendo lá fora a sua viagem de mistério.
Em A Casa Mal-Assombrada (31 páginas), um grupo de pessoas instala-se, por um período determinado, em uma casa supostamente assombrada para inspecionar as ocorrências. Precursor de situações clássicas no gênero (como depois fariam Shirley Jackson e Richard Matheson), o conto resvala na comicidade quando John, o protagonista, delira como vitima da maldição local e a presença de uma entidade citada apenas como Mestre B.
Agitado por uma multidão de pensamentos, cheio de curiosidade, recolhi-me ao quarto, na noite daquele dia, preparado para enfrentar novas experiências de caráter espectral. Acordando depois de um sono agitado, exatamente às duas horas da madrugada, imagine-se só o que senti, vendo deitado comigo na mesma cama o esqueleto de Mestre B.
E o autor não restringe aparições somente à casa. Logo nas primeiras sequências John encontra um suposto vidente em uma viagem de trem, que lhe revela sobre as ilustres presenças circulando pelo vagão.
• Dois contos vitorianos do essencial Charles Dickens, raramente disponíveis em outras coletâneas. Ambas envolvendo aparições e ambas passadas em período natalino, situações recorrentes na obra de Dickens. E mesmo a dimensão do formato de conto não foi impedimento para o minucioso texto do autor e de profundas implicações dramáticas. Em A Assombração (109 páginas) um espectro assume a forma do prof. Redlaw e com ele estabelece uma conversação propondo o esquecimento de seus erros e pesares acumulados pela vida. Mas o esquecimento desse fardo também faz com que o professor se torne amargo, desumano e indiferente à dor alheia.
– Se eu pudesse esquecer de meu erro e meu sofrimento, eu esqueceria.
– Ouça o que ofereço! Esqueça o sofrimento, o erro e todas as preocupações que conheceu. [...] Tenho o poder de extirpar aquela lembrança, de deixar dela apenas traços leves, confusos, que não tardarão a desaparecer – insistiu o fantasma – Dize! Está combinado?
Sugerindo paralelos com a lenda do doppleganger, o autor faz do protagonista na verdade um personagem assombrado pela própria consciência e escolhas sociais. As menções de semelhança entre o espectro e o próprio professor são pistas disso.
O homem vivo e a imagem animada de si mesmo podiam, assim, ser olhados, um após o outro. Uma horrível visão, em um local solitário e remoto de um vazio conjunto de prédios, em uma noite de inverno com o ruidoso vento empreendendo lá fora a sua viagem de mistério.
Em A Casa Mal-Assombrada (31 páginas), um grupo de pessoas instala-se, por um período determinado, em uma casa supostamente assombrada para inspecionar as ocorrências. Precursor de situações clássicas no gênero (como depois fariam Shirley Jackson e Richard Matheson), o conto resvala na comicidade quando John, o protagonista, delira como vitima da maldição local e a presença de uma entidade citada apenas como Mestre B.
Agitado por uma multidão de pensamentos, cheio de curiosidade, recolhi-me ao quarto, na noite daquele dia, preparado para enfrentar novas experiências de caráter espectral. Acordando depois de um sono agitado, exatamente às duas horas da madrugada, imagine-se só o que senti, vendo deitado comigo na mesma cama o esqueleto de Mestre B.
E o autor não restringe aparições somente à casa. Logo nas primeiras sequências John encontra um suposto vidente em uma viagem de trem, que lhe revela sobre as ilustres presenças circulando pelo vagão.
Há dezessete mil, quatrocentos e setenta e nove espíritos aqui. Ele (Sócrates) não tem a liberdade de se manifestar, mas espera que você esteja gostando da viagem. Também Galileu descera, com sua inteligência científica.
👻
Leitura Radical
Um aperitivo na obra do autor.
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Leitura Passional
Leitura Passional
Fantasmas vitorianos são os melhores.
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A Assombração e A Casa Mal-Assombrada
The Haunted House, The Haunted Man - Charles Dickens, 1848Editora Ediouro, Rio de Janeiro, RJ, 1988
144 páginas
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