O Amante Fantasma - um exercício em mistério vitoriano.

"Acredita agora?, sussurrou a voz de Oke no meu ouvido. "Acredita agora? Era tudo imaginação minha? Ah, mas desta vez eu o pego. Tranquei a porta de dentro e, por Deus, ele não me escapará!" Assim que atravessei o batente, algo fulgurou diante dos meus olhos, ouviu-se um estampido forte, um grito agudo e o baque surdo de um corpo caindo no chão.

• Novela da escritora inglesa (de origem francesa) Vernon Lee, nome de forte referência no fantástico vitoriano além de ativista precursora de movimentos feministas e antibélicos. 

O Amante Fantasma é ambientado na Inglaterra em 1880 e conta sobre a estadia de um pintor contratado para fazer os retratos do casal Oke em sua enorme residência. William Oke e Alice Oke cumprem uma vida desinteressante e o pintor desvenda gradualmente o desentendimento reinante, especialmente de Alice para com o marido. Um assunto tabu sobre um crime cometido pelos antepassados do casal é repetidamente mencionado pela esposa para desestabilizar o marido cada vez mais. Finalmente, o pintor compreende que William acredita que o poeta Christopher Lovelock, assassinado pelos antepassados nas proximidades da habitação, pode estar flertando com sua esposa e circulando pelas dependências! Alice, que a princípio se mostra reclusa e reservada, começa a revelar sinais de instabilidade aos olhos do pintor.

... mulher de poucas palavras, mais calada ainda que o marido, pois não se sentia, como este, na obrigação de entreter uma visita ou de mostrar por esta qualquer interesse. Parecia levar a vida – uma vida estranha, sedentária, em semi-invalidez, marcada por súbitos acessos de animação pueril – em perpétuo devaneio, perambulando pela casa e pelos terrenos da propriedade.

A semelhança entre Alice e sua antepassada, também chamada Alice, é notada pelo pintor nos quadros expostos no hall do casarão e a singela trama é montada pela autora em sucessões sutis. Alternando os transes do marido William e a instabilidade emocional de Alice, a narrativa cria um sutilíssimo véu de mistério que resvala muito economicamente no irreal. Sua grande força acaba sendo a riqueza descritiva para efeito de ambientação.

Pouco a pouco as brasas fizeram-se mais pálidas, os desenhos das tapeçarias, mais sombrios, a cama de colunas e cortinado tornou-se menos visível, a cor cinza pareceu encher o quarto e meus olhos se deixaram atrair par ao janelão curvo, dividido por pilastras. [...] Entre o tamborilar das gotas de chuva lá fora, na hera, ouvia-se, mais tênue ou mais agudo, o balido intermitente dos cordeiros desgarrados das mães, um gritinho melancólico, trêmulo e lúgubre.

Leitura Radical
Um conto estendido, sem maior ambição.

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Leitura Passional

Uma delicada curiosidade literária.
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O Amante Fantasma

A Phantom Lover, Vernon Lee, 1886

Editora Marco Zero, São Paulo, SP, 1994

130 páginas