11 de março de 2020

Dawnrange

Dawnrange (EUA, Japão, 2017)

Diret Ryhuei Kitamura
Com Stephanie Pearson, Kelly Connaire, Rod Hernandez, Anthony Kirlew, Alexa Yeames, Jason Tobias.

dawnrange

É esse o mundo pós-Tarantino?! Suspense de estrada que aglutina tudo o que temos de bom e ruim no pop contemporâneo. E lá vem o Phillip mala com reclamação... Mas é inevitável acionar o modo desconfiado ao se defrontar com mais uma das indulgências pop que parecem estar sendo despejadas a cada minuto diante de nossos olhos. Os facilitadores destes tempos digitais têm possibilitado níveis diversos de produção e as propostas "conceituais" ou "minimalistas" estão sendo testadas de forma recorrente. Talvez isso esteja levando a um sub-sub-gênero em cinema B no qual a disposição e pressa em realizar seja maior do que o tempo de planejamento e roteirização. No post Bora Fazê Filme? tem uma lista de produções dentro dessa discussão.

Este Dawnrange é um suspense de estrada na qual seis jovens em viagem precisam parar e trocar um pneu furado. Quando descobrem que o pneu na verdade foi estourado intencionalmente por um tiro, precisam se proteger. E quando identificam um sniper próximo, ficam sitiados atrás do veículo avariado na espera por uma solução. E o diretor Kitamura, que tem coisas bem legais no currículo, erra feio aqui em uma direção que pretende o style, mas resulta equivocada. Como se tivesse pego uma receita e alinhado os ingredientes de forma incorreta e desmedida. 

A grande falha do filme é que todo o seu excesso não serve a configurar um suspense agoniante, ou uma tragédia, ou uma aventura heroica, ou um paralelo apocalíptico de matança no deserto, ou uma sátira ao gênero, ou qualquer coisa que seja. Ou seja, a intenção em surpreender não levou a direção nenhuma e perdeu a chance de ser apenas um bom suspense.

A cena do zoom-out do buraco de bala na cabeça, já dá uma noção da pretensão do filme ao excesso-surpresa-estiloso. Kitamura tem ótimos trabalhos na porradaria sangrenta em, por exemplo, Midnight Meat Train, mas aqui o resultado é cartunesco em sua dimensão caricata. Junte nessa receita um elenco ruim & mal dirigido e temos um filme que deveria ter sido muito legal virando um festival de forçação. Atuação é o pilar central de um filme desses de tensão dramática e as flagrantes caretas do elenco resultam risíveis. Isso para não falar nos policiais mais trapalhões que aparecem atendendo a um chamado.
 
Dawnrange pode ser um exemplo clássico dos perigos e armadilhas da produção contemporânea que tem toda a liberdade e assume qualquer critério na realização, mas não sabe bem o que fazer com isso... A necessidade de surpreender em nível Tarantino põe a perder todos os momentos de susto, pânico, revolta ou drama, e a consequência é que o show vai ficando cada vez mais inaceitável e risível a ponto da ironia final ser o cúmulo da reviravolta besta! Se tem suas virtudes sleazy sendo "cruel" e "sangrento", tem a contrapartida de ser "idiota" e "sem-noção".

Resta por fim, a possibilidade de considerar Dawnrange como um filme imprescindível para uma leitura da produção moderna. Um filme-termômetro de como a aceitação dos imperativos-pop contemporâneos pode estar desvirtuando mais do que contribuindo para o cinema atual. 

• Kitamura em melhores dias fez Ninguém Sobrevive e O Último Trem.
• Surpresa excesso: cadáveres despedaçados e criança baleada.
• Insuportável: "interpretação" de caretas, em "modo Nicholas Cage".
• Poderia ter entrado na lista de 20 Coisas Feias.
• Será que é uma comédia e eu não entendi?!......

Expectativa 😈😈     Realidade 😈😈

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