25 de março de 2020

Umberto Lenzi - o prolífico diretor funcionário do pop-spaguetti.


Fãs do cinema pop-trash serão eternamente gratos a este incansável mestre do cinema B que inaugurou os filmes de canibais, fez thrillers alternativos e proporcionou a Tomas Milian e Maurizio Merli seus melhores momentos nas pancadarias poliziotteschi! Escolha um gênero popular no cinema italiano do pós-guerra: gladiadores, faroestes, espionagem, policiais, guerra, comédias, suspense, terror... Lenzi passou por aí e fez um punhado de filmes em cada um deles! Foi um gênio? Não. Mas foi um artífice do sleazy como poucos.
  
• Poucos diretores foram tão produtivos no cinema popular italiano quanto Umberto Lenzi. Nascido na Toscana em 1931, Lenzi como muitos de sua geração, foi um profissional que se colocou à disposição de demandas na produção popular, conforme o gênero de evidência nas bilheterias. Foi estudante de direito, mas a paixão de juventude pelo cinema o levou à pesquisa e crítica jornalística e finalmente para a indústria dos filmes, como assistente de direção. Iniciou carreira na direção com aventuras capa-espada como As Aventuras de Mary Read (1961) e Sandokan o Grande (1963). Em Cosi Dolce Cosi Perversa (1969) e Un Posto Ideale Per Uccidere (1970), entrou na onda dos thrillers (giallos) que então ganhavam o mercado. Com o pobretão Men From Deep River (1972) estabeleceu os padrões para o sub-gênero canibais. Lenzi foi especialmente criativo e produtivo no cinema policial (de grande demanda em meados dos anos 70), chegando a delinear uma notável linha autoral. De Milano Rovente (1973) a O Chefão Siciliano (1979) deixou uma série respeitável de filmes no gênero por sua eficiência direta. Milano Odia (1974) é dos mais pesadões do período, com o delinquente Tomas Milian massacrando à vontade, e em Roma a Mano Armata (1976) iniciou a ótima série de filmes do inspetor Terzi, com Maurizio Merli fazendo a linha hard-boiled de Dirty Harry (o poliziotteschi merece um texto à parte). Curiosamente, foi um diretor de eficiência renomada, mas mesmo assim seu trabalho oscilou entre filmes de produção consistente a outros visivelmente rudimentares.
Com Canibal Ferox, em 1981, praticamente encerrou seu período áureo. Seguiu-se a queda de produção do B em meados dos anos 80, e a orientação ao vídeo consumo, e Lenzi também perdeu o rumo criativo entregando-se a produções ligeiras. Entre elas, pálidos retornos ao fantástico em Ghost House ou Nightmare Beach (dirigidos sob pseudônimo) e alguns filmes para TV.
Lenzi faleceu em 2017 deixando uma obra criativa e duradoura pelas infinitas galerias do euro-sleazy.


Aqui vai uma seleção de dez filmes no suspense e terror.

1969 Cosi Dolce, Cosi Perversa (So Sweet, So Perverse) • Carroll Baker é uma mulher vítima da relação dominadora por seu parceiro Klaus (Horst Frank). Jean-Louis Trintignant, um conquistador em crise no casamento, se empenha em ajudá-la a se livrar do parceiro que começa a se revelar um psicopata. Suspense elegante, com um ótimo rendimento visual kitsch característico da época, mas está mais para a tradição noir do que os modelos do giallo, então ainda em formação. 😈😈😈

1972 Il Coltello di Ghiaccio (Knife of Ice) • Carroll Baker está traumatizada e sem voz, morando em uma mansão da família com seu tio e demais parentes até que mortes misteriosas começam a dizimar a família. Muitos suspeitos e a possibilidade de tudo ser uma trama à sua volta! Suspense leve e bastante atrasado em sua forma clássica de mistério retrô folhetinesco. 😈

1972 Sette Orchide Macchiati di Rosso (Sete Orquídeas Manchadas de Sangue) • Giulia escapou de uma tentativa de assassinato e seu marido Mario (Antonio Sabato) tenta decifrar as ligação entre os diversos crimes antes que o matador volte a atacá-la. Nos moldes do giallo, Lenzi faz aqui um dos bons exemplares do gênero. Bem dinâmico e inventivo visualmente e com uma narrativa consistente na condução do mistério. Participação de Marisa Mell. 😈😈😈

1972 Il Paese Del Sesso Selvaggio (Men From Deep River) • Fotografo inglês se perde em selvas tailandesas e precisa se adaptar à tribo que o captura. Pioneiro do canibal-cinema! Veja o post.

1974 Spasmo • Robert Hoffman e Suzy Kendall encontram-se em um retiro para uma noite de amor, mas quando ele mata um homem acidentalmente, intrigas e mais crimes começam a ocorrer por conta da "demência hereditária" do protagonista e seus familiares. Giallo modelar, mas sem a classe histriônica dos grandes filmes do gênero. Tem falatório demais e invenção de menos, mas tem a seu favor uma reviravolta de epílogo que, curiosamente, não poupa nenhum personagem (nenhum!) de sua loucura e matança. Suzy Kendall repete sua presença como uma das rainhas do giallo e Ivan Rassimov repete seu tipo implacavelmente misterioso. 😈😈😈

1975 Gatti Rossi in un Labirinto di Vetro • Grupo de turistas em Barcelona começa a ser morto um a um por assassino que deixa como marca sempre o olho esquerdo extraído da vítima. O título forçado (as vítimas usam capa vermelha) tenta semelhança com os filmes de Dario Argento, mas este é um giallo pobretão que peca pelo naturalismo da foto nas ruas e produção mínima em cenários naturais. Sem inventividade gráfica e com o roteiro simplório, está mais próximo de um suspense convencional do período. Título alternativo, Eyeball. 😈😈

1980 Mangiati Vivi (Eaten Alive) • Janet Agren em busca de sua irmã desaparecida viaja pelas selvas da Nova Guiné para encontrá-la como participante de uma seita fanatizada. Aventura entre as mais conceituadas na linha do canibal-film. Na pobreza geral da produção, o filme "aproveita" cenas diversas de outros filmes do gênero em uma clássica manobra trash, assim como inclui diversas cenas de animais se devorando. No elenco, Ivan Rassimov (como um líder à moda de Jim Jones) e o pornô Robert Kerman (Richard Bolla). 😈😈

1980 Incubo Sulla Citta Contaminata (City of the Walking Dead) • Um avião não identificado do exército aterriza em uma cidade. Seus tripulantes contaminados por radiação descem enlouquecidos e atacam a todos os que encontram, causando uma carnificina na cidade. Em meio ao caos, o repórter Dean Miller (Hugo Stiglitz) tenta encontrar a esposa a tempo, antes da matança geral. Ficção e terror em uma aventura amalucada na onda living-dead da ocasião. Mas os monstros aqui são articulados e planejam ataques conscientemente. Podem ter sido gerados como um plano de destruição. (Lenzi se irritava quando diziam que era filme de morto-vivo!). Fajutão, mas divertido em seu corre-corre e vale tudo. No elenco de coadjuvantes, Francisco Rabal, Eduardo Fajardo e Mel Ferrer. 😈😈

1981 Canibal Ferox • Antropóloga excursiona por selvas amazônicas em busca de evidências de tribos canibais. Dos melhores da "série canibais". Veja o post.

1991 Black Demons (Noite Maldita) • Este tem especial relevância aos fãs brazucas. Foi filmado aqui e com participação de elenco brasileiro! Efeitos bacana e clima bem construído, pena que é lerdo.... Três estudantes viajam ao Brasil para uma pesquisa sobre ritos africanos. No Rio de Janeiro são levados a um ritual candomblé e quando hospedados em uma fazenda, as gravações de cantos do ritual fazem uma legião de escravos levantar das tumbas. Cléa Simões (a Mamãe Dolores de O Direito de Nascer) faz a orientadora no início, e a veterana das novelas e cinema Maria Alves é uma praticante de vudu! 😈😈

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