De repente o zumbido parou, as paredes do quarto desapareceram por completo, e no silencio que me envolvia comecei a perceber um outro som: uma espécie de grande batimento, de vasta pulsação. Depois, estava na margem de um imenso mar nebuloso, e o que ouvia era o lento quebrar de suas ondas aos meus pés. E sob a superfície daquele oceano, de vez em quando parecia-me vislumbrar relâmpagos, clarões.
• Que dizer de um escritor que influenciou H. P. Lovecraft?... Leia hoje! Se já leu, leia de novo! A Casa Sobre o Abismo conta sobre dois amigos em viagem de férias pelo interior da Irlanda que descobrem as ruínas de uma velha habitação. Nesse local misterioso e de geografia bastante incomum, encontram um texto escrito pelo antigo morador. (Sou um velho. Moro aqui, nessa casa antiga, cercada de grandes jardins abandonados. Os camponeses dos arredores dizem que sou louco, porque nunca vou ao vilarejo e não quero ver ninguém.) E esse documento manuscrito traz o relato das descobertas do morador em suas investigações locais. Investigações pelos jardins e bosques ao redor da casa e porões. Espaços que constituem momentos pavorosos da narrativa.
Mantendo o alçapão aberto com o joelho, apanhei a vela e a introduzi na abertura, passando-a da direita para a esquerda, mas sem conseguir ver nada. Fiquei ali, atônito. Não havia grades nem o menor sinal de elas já terem existido. Nada, só o vazio das trevas. Parecia um abismo sem fundo e sem paredes. Enquanto olhava para aquilo pareceu-me ouvir, muito mais longe, como proveniente da insondável profundidade, uma espécie de sussurro [...] Mas de repente aumentou, ou me pareceu aumentar, transformando-se numa horrível risada.
Mas o autor não se detém às possibilidades góticas da situação: uma grande casa construída à beira de um penhasco arredondado para onde convergem cursos de água e em cujas paredes encontram-se galerias para profundezas ainda maiores. E o suspense vai ainda mais longe com as projeções astrais vivenciadas pelo protagonista em forma de incríveis delírios incorpóreos!
Por algum tempo só consegui fitar cegamente a Estrela na minha frente. Depois saí gradualmente de meu espanto e olhei ao redor. Descobri um espetáculo tão extraordinário que pensei estar sonhando. Do verde do astro brotava um rio intermitente de globos docemente luminosos, envoltos por um cintilante manto de névoa claríssima. Estendiam-se ao redor de mim até uma distância inacreditável, e escondiam a luz da Estrela Verde.
Caracterizado como uma sucessão de perigos e delírios em passagens narrativas distintas, A Casa Sobre o Abismo garante imersão de leitura em seu constante mistério e um texto fascinante com muitas situações especialmente apavorantes. A casa pode ser um local de intersecção dimensional por onde criaturas de feições suínas vem atacar a residência dando espaço a momentos de ação mais corriqueiros. O autor também impressiona na construção de mistério em ambiências palpáveis e atmosferas perturbadoras (que seriam, posteriormente, a marca de Lovecraft), como na aceleração temporal que toma a narrativa na parte final.
Olhei em volta, amedrontado, na luz inconstante, intermitente, de dias e noites que fugiam no tempo em segundos. O quarto estava empoeirado, sujo, os móveis caindo, recobertos por uma espessa camada de pó. O tapete estava invisível, sob o humo impalpável que o cobria inteiramente. Dei alguns passos e o pó levantou-se sob meus pés em pequenas nuvens.
• Que dizer de um escritor que influenciou H. P. Lovecraft?... Leia hoje! Se já leu, leia de novo! A Casa Sobre o Abismo conta sobre dois amigos em viagem de férias pelo interior da Irlanda que descobrem as ruínas de uma velha habitação. Nesse local misterioso e de geografia bastante incomum, encontram um texto escrito pelo antigo morador. (Sou um velho. Moro aqui, nessa casa antiga, cercada de grandes jardins abandonados. Os camponeses dos arredores dizem que sou louco, porque nunca vou ao vilarejo e não quero ver ninguém.) E esse documento manuscrito traz o relato das descobertas do morador em suas investigações locais. Investigações pelos jardins e bosques ao redor da casa e porões. Espaços que constituem momentos pavorosos da narrativa.
Mantendo o alçapão aberto com o joelho, apanhei a vela e a introduzi na abertura, passando-a da direita para a esquerda, mas sem conseguir ver nada. Fiquei ali, atônito. Não havia grades nem o menor sinal de elas já terem existido. Nada, só o vazio das trevas. Parecia um abismo sem fundo e sem paredes. Enquanto olhava para aquilo pareceu-me ouvir, muito mais longe, como proveniente da insondável profundidade, uma espécie de sussurro [...] Mas de repente aumentou, ou me pareceu aumentar, transformando-se numa horrível risada.
Mas o autor não se detém às possibilidades góticas da situação: uma grande casa construída à beira de um penhasco arredondado para onde convergem cursos de água e em cujas paredes encontram-se galerias para profundezas ainda maiores. E o suspense vai ainda mais longe com as projeções astrais vivenciadas pelo protagonista em forma de incríveis delírios incorpóreos!
Por algum tempo só consegui fitar cegamente a Estrela na minha frente. Depois saí gradualmente de meu espanto e olhei ao redor. Descobri um espetáculo tão extraordinário que pensei estar sonhando. Do verde do astro brotava um rio intermitente de globos docemente luminosos, envoltos por um cintilante manto de névoa claríssima. Estendiam-se ao redor de mim até uma distância inacreditável, e escondiam a luz da Estrela Verde.
Caracterizado como uma sucessão de perigos e delírios em passagens narrativas distintas, A Casa Sobre o Abismo garante imersão de leitura em seu constante mistério e um texto fascinante com muitas situações especialmente apavorantes. A casa pode ser um local de intersecção dimensional por onde criaturas de feições suínas vem atacar a residência dando espaço a momentos de ação mais corriqueiros. O autor também impressiona na construção de mistério em ambiências palpáveis e atmosferas perturbadoras (que seriam, posteriormente, a marca de Lovecraft), como na aceleração temporal que toma a narrativa na parte final.
Olhei em volta, amedrontado, na luz inconstante, intermitente, de dias e noites que fugiam no tempo em segundos. O quarto estava empoeirado, sujo, os móveis caindo, recobertos por uma espessa camada de pó. O tapete estava invisível, sob o humo impalpável que o cobria inteiramente. Dei alguns passos e o pó levantou-se sob meus pés em pequenas nuvens.
🌞🌚
Leitura Radical
A forma episódica prejudica o conjunto.
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Leitura Passional
Terror cósmico de raiz!!!
Terror cósmico de raiz!!!
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A Casa Sobre o Abismo
The House on the Borderland, William Hope Hodgson, 1908
Editora Newton Compton Brasil, Rio de Janeiro - RJ, 1996
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