27 de abril de 2020

O Poço

El Hoyo (Espanha, 2019)

Diret Galder Gastelu-Urrutia
Com Ivan Massagué, Zorion Eguileor, Emilio Buale, Antonia San Juan, Alexandra Masangkay, Zihara Llana.

o poço

Distopia do inconsciente. Sufocante alegoria social na forma de um drama carcerário. Em uma instituição de critérios punitivos os encarcerados formam duplas suas celas, e cada cela está disposta em uma gigantesca estrutura vertical. Uma abertura central tem uma plataforma móvel pela qual disponibiliza-se comida a intervalos regulares, mas a cada andar para baixo, os alimentos irão sendo consumidos. Mais do que um simples punição, os internos esperam receber um benefício pela estadia. Goreng (Ivan Massagué) é o novo interno que tenta compreender a situação e reverter o processo injusto que permite a alimentação farta dos primeiros andares e deixa apenas restos para os encarcerados inferiores.

O Poço é uma aflitiva fantasia macabra sobre estruturas sociais e a alienação dos que a integram. Enquanto alguns se adaptam como podem, alheios às situações dos demais, outros tentam a locomoção pela plataforma móvel (como a mulher que procura pelo filho perdido) e meios de revolucionar a situação. Até aí, não há nada de novo na narrativa de simbolismo, High Rise já havia tentado algo assim com a estratificação social exposta de forma física, mas a grande sacada do roteiro é que os encarcerados mudam de plataforma quando inconscientes e as realidades e crenças dos que encontram interferem na sua consciência, mesmo à sua revelia. E então o filme sugere uma sufocante teia coletiva (e a construção do inconsciente coletivo) da qual é impossível escapar.

O mais desesperador é que as estruturas administrativas da prisão, e suas regras, nunca são reveladas. E quanto mais Goreng se envolve com outros internos, mais começa a ter seus princípios abalados. A possibilidade da união entre os encarcerados na compreensão da estrutura e seu funcionamento parece uma utopia de impossível alcance enquanto as individualidades forem impedimentos à comunicação.

Em um espetáculo escatológico, o roteiro joga com diversos elementos sempre como simbolismo. Assim, propostas, princípios, solidariedade ou sabedoria são virtudes levantadas pelo ótimo roteiro, como possibilidades (ainda que remotas) de se arranhar a superfície da estrutura que comanda o poço e subvertê-la ao benefício mútuo.
Aflitivo e claustrofóbico, o filme é uma cruel revisão social cuja aparente simplicidade vai se abrindo a leituras progressivamente aprofundadas.


• Achei o protagonista a cara do Eduardo Bueno!
• Tudo perdido: Goreng começa a confundir seus próprios princípios.
• Aflição suprema: nem a cultura, nem os princípios ou a consciência, ou experiência, ou solidariedade, ou sabedoria, se sustentam diante da necessidade mais básica da sobrevivência.

Expectativa 😈😈😈     Realidade 😈😈😈😈

ivan massague
É comer ou ser comido!

Nenhum comentário:

Postar um comentário