16 de maio de 2020

A Noite dos Mortos-Vivos – a versão literária de um dos maiores monumentos do pop macabro!

A Noite dos Mortos Vivos
Um som sinistro e sibilante vinha das bordas do gramado e das profundezas escuras do campo , um som doentio que emanava das coisas mortas e que tornava a presença delas mais ameaçadora. Era o ruído dos arquejos ásperos e dolorosos de seus pulmões mortos, uma espécie de coro infernal de guizos que dava calafrios na espinha. (A Volta dos MV)

• Adaptação literária de John Russo sobre seu próprio roteiro feito para o clássico do cinema de terror dirigido por George Romero em 1968. Reunindo ideias suas e alinhando-as às intenções de Romero, John Russo delineou o roteiro do filme que atualizou a figura do morto-vivo e funcionou como um divisor de águas no terror moderno. A adaptação para o formato literário é de 1995 e a edição da Darkside também traz a sequência The Return of the Living Dead, escrita por Russo nos anos 70 e sem relação com a comédia homônima de Dan O'Bannon, na qual ele também participou no argumento. 
Mas Russo não se esforça muito em criação literária e o livro acaba sendo apenas a transposição óbvia dos eventos do filme. Com alterações mínimas nos momentos climáticos, a novela se concentra no desentendimento dos que se refugiaram na casa de campo, vazia e progressivamente cercada por mortos-vivos. A falha na comunicação humana é recorrente na obra de Romero e a novela destaca muito bem o antagonismo entre os personagens de Ben e Harry como algo ainda mais alarmante do que a ameaça externa. Temperada por algumas descrições gore, A Noite dos Mortos Vivos, em livro, vale mais como complemento de colecionador ao clássico cult que o originou.

Os rostos dos agressores eram rostos de defuntos. A carne estava putrefata e gotejava pus em alguns pontos. Os olhos inchados projetavam-se para fora das órbitas profundas. Tinham a pele pálida, branca como gesso. Moviam-se com dificuldade, como se a força misteriosa que os ressuscitara não tivesse feito um trabalho completo.

A segunda novela, A Volta dos Mortos-Vivos, apresenta um trabalho literário muito mais refinado. Em uma comunidade interiorana, dez anos depois dos fatos narrados na história anterior, o xerife McClellan (encarregado dos extermínios na história anterior) volta a se confrontar com os mortos que se erguem depois de um acidente de ônibus na estrada próxima. E os habitantes, receosos de nova proliferação, criaram o hábito de mutilar os crânios de todo e qualquer falecido em qualquer circunstância. Com o novo contágio se alastrando, a sociedade local começa a enfrentar violências paralelas de marginais e até de grupos de justiceiros armados que aproveitam o caos para saquear casas.

– Estamos cercados por todos os lados! Deve ter uns trinta ou mais zumbis lá fora!
– E daí?, Carter disse calmamente. – Podemos acender umas tochas e passar por eles como fizemos antes.
Wade Connely olhou para ele com ceticismo. Flack cutucou um dos prisioneiros com a ponta da bota.
– Ração para zumbi – disse ele em voz baixa.

Assim, A Volta dos MV, cria uma variante bem dinâmica, partindo do original, com ação e violência, e inclusive com zumbis que não são tão desorientados e articulam reações ao fogo, por exemplo, e ataques grupais. Incluindo divertidos clichês (Nenhum dos homens notou quando o braço de um dos corpos deslizou para fora do lençol que o encobria parcialmente. Os dedos se contraíram quase imperceptivelmente.) e antecipando muitas situações incluídas posteriormente em filmes e séries, A Volta dos MV é uma das obras mais divertidas do universo living-dead em todos os tempos. Pena que não virou filme...


Leitura Radical
Faltou literatura. Vale mais pela novela inédita.
Leitura Passional
Um monumento da cultura pop moderna.
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A Noite dos Mortos Vivos

Night of the Living Dead, 1995
Return of the Living Dead, 1978
Editora Darkside, Rio de Janeiro RJ, 2014

john russo

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