10 de setembro de 2020

A Noite do Terror Cego

La Noche Del Terror Ciego (Espanha, 1972)

Diret Amando de Ossorio
Com Lone Fleming, Helen Harp, César Burner, José Thelman, Rufino Ingles.

Noche del terror ciego

Clássico "ruim que é bom". Notório terror espanhol que ganhou fama cult com o tempo e constituiu uma série, uma "trilogia de quatro filmes". Virginia e Beth são amigas de faculdade que se reencontram em uma viagem pelo interior de Portugal, mas um desentendimento entre elas faz com que Virginia abandone a viagem e procure abrigo em uma abadia em ruínas. O local é evitado pelos moradores próximos pois foi habitado pelos Templários, guerreiros executados no século XIII que voltam à vida para se alimentar de sangue. E logo, Virginia e os que vierem em seu salvamento irão se confrontar com os guerreiros revividos.

Lento e simplório, La Noche Del Terror Ciego deve ser o filme mais pueril jamais filmado. Em suas ações e consequências absurdamente óbvias e diálogos pobres, cria um estado de percepção pré-racional. A narrativa sem imaginação não se esforça em nenhum momento, simplesmente alinha sequencialmente as cenas, sem chance a subentendimentos, enriquecimento de personagens ou significados. Mas então, por que o filme dos Blind Dead teve sua repercussão e gerou três sequências e é aturado até hoje como "clássico do terror"?! Simplesmente porque a qualidade fotográfica e a atmosfera conseguida é das melhores jamais vista.

Co-produzido por Espanha e Portugal, a produção contou com autênticas ruínas que, iluminadas de forma eficiente e com a ótima caracterização dos Templários, conseguiu criar um dos maiores momentos atmosféricos do cinema de terror. As cenas com os Templários vagando lentos pelas sombras e nichos das ruínas são insuperáveis (apesar das mãozinhas pobres) e garantiram a eficácia do filme em morbidez climática digna de um sonho ruim. La Noche Del Terror Ciego pode ser melhor compreendido se for visto como aqueles filmes-happening de boa parte da produção europeia do período, como os de Jean Rollin, por exemplo. Filmes nos quais a cobrança por roteiro elaborado e grandes atuações não faz sentido, uma vez que a proposta é o filme como um "lugar temático" a ser visitado.


El Ataque de los Muertos Sin Ojos

Pois bem, La Noche teve sua repercussão e em 1973 o diretor voltou com El Ataque De Los Muertos Sin Ojos (disponível aqui em glorioso VHS como O Retorno dos Mortos-Vivos lá pelos anos 80). A volta dos Templários cegos que se orientam pelos sons e gritos e até descobrem suas vítimas ouvindo o pulsar de seus corações. No primeiro filme eles tiveram seus olhos comidos por corvos, aqui na sequência, foram cegados a fogo pelos aldeões. Agora eles atacam a população local justamente na noite de festejo por sua execução. Produção melhorzinha e mais dinâmica que o primeiro, tem Fernando Sancho e Frank Brana (veteranos dos faroestes), parece pop brazuca do mesmo período (a protagonista, Esperanza Roy é a cara da Georgia Gomide), tem seus tropeços cênicos como os zumbis-manequins sem o menor disfarce e tem o final mais besta da série. Mas, como o primeiro, é um show climático e impecável visualmente com os Templários a cavalo pelo vilarejo.

No ano seguinte a série teve continuidade com El Buque Maldito (O Galeão Fantasma, 1974) e aí a coisa ficou feia. Agora os Templários estão em um galeão oculto por uma névoa e os que inadvertidamente sobem a bordo são atacados. Duas garotas à deriva em um barco se ocultam no galeão e o pessoal que vem à sua procura faz o mesmo. Todo mundo passando a noite em um misterioso galeão apodrecido em alto mar!!! O pior é a tentativa de inserir uma trama sobre articulações de publicitários e o que menos fazia falta no filme 1 (justificativas) é o que mais compromete El Buque Maldito. Esteticamente o filme também falha na pobreza visual e as mãozinhas de papelão, insistentemente expostas, mas nada é tão vergonhoso quanto o galeão em miniatura, fotografado fora de foco para disfarçar. Aí não dá! Mas as figuras dos Templários ainda são atraentes e o final traz as belas cenas com os mortos-vivos se levantando na praia à luz do sol.

El Buque Maldito

E para encerrar, em 1975 veio La Noche De Las Gaviotas. Um jovem médico e sua esposa, mudam-se para um vilarejo litorâneo onde os locais fazem sacrifícios de belas jovens para os Templários (que agora voltaram à velha e boa abadia em ruínas). Quando o doutor interrompe os sacrifícios, os Templários precisam atacar a vila em busca de vítimas. Sem mais o que fazer com o argumento – esgotado no primeiro filme – o diretor sabiamente aposta na estética colocando seus mortos-vivos agora em paisagens litorâneas com filtros noturnos. E encerra o assunto quando o doutor descobre a câmara com o ídolo que resguarda a força dos mortos-vivos.

El Buque Maldito

• Destaque nos quatro filmes: a trilha sonora de Anton Garcia Abril, que deveria ser um canto-chão macabro e mais parece um coral de bêbados!
• Atacável por diversos motivos, mas é inegável que o diretor conseguiu uma variação de encanto muito particular com a série.
• Em 2020, a produção italiana The Curse of the Blind Dead tentou reaproveitar os personagens, mas em um resultado sofrível. 

La Noche Del Terror Ciego  💀💀💀
El Ataque De Los Muertos Sin Ojos 💀💀💀
El Buque Maldito 💀
La Noche De Las Gaviotas 💀💀

La Noche Del Terror Ciego

Nenhum comentário:

Postar um comentário