La Noche Del Terror Ciego (Espanha, 1972)
Diret Amando de Ossorio
Com Lone Fleming, Helen Harp, César Burner, José Thelman, Rufino Ingles.
Clássico "ruim que é bom". Notório terror espanhol que ganhou fama cult com o tempo e constituiu uma série, uma "trilogia de quatro filmes". Virginia e Beth são amigas de faculdade que se reencontram em uma viagem pelo interior de Portugal, mas um desentendimento entre elas faz com que Virginia abandone a viagem e procure abrigo em uma abadia em ruínas. O local é evitado pelos moradores próximos pois foi habitado pelos Templários, guerreiros executados no século XIII que voltam à vida para se alimentar de sangue. E logo, Virginia e os que vierem em seu salvamento irão se confrontar com os guerreiros revividos.
Lento e simplório, La Noche Del Terror Ciego deve ser o filme mais pueril jamais filmado. Em suas ações e consequências absurdamente óbvias e diálogos pobres, cria um estado de percepção pré-racional. A narrativa sem imaginação não se esforça em nenhum momento, simplesmente alinha sequencialmente as cenas, sem chance a subentendimentos, enriquecimento de personagens ou significados. Mas então, por que o filme dos Blind Dead teve sua repercussão e gerou três sequências e é aturado até hoje como "clássico do terror"?! Simplesmente porque a qualidade fotográfica e a atmosfera conseguida é das melhores jamais vista.
Co-produzido por Espanha e Portugal, a produção contou com autênticas ruínas que, iluminadas de forma eficiente e com a ótima caracterização dos Templários, conseguiu criar um dos maiores momentos atmosféricos do cinema de terror. As cenas com os Templários vagando lentos pelas sombras e nichos das ruínas são insuperáveis (apesar das mãozinhas pobres) e garantiram a eficácia do filme em morbidez climática digna de um sonho ruim. La Noche Del Terror Ciego pode ser melhor compreendido se for visto como aqueles filmes-happening de boa parte da produção europeia do período, como os de Jean Rollin, por exemplo. Filmes nos quais a cobrança por roteiro elaborado e grandes atuações não faz sentido, uma vez que a proposta é o filme como um "lugar temático" a ser visitado.
Pois bem, La Noche teve sua repercussão e em 1973 o diretor voltou com El Ataque De Los Muertos Sin Ojos (disponível aqui em glorioso VHS como O Retorno dos Mortos-Vivos lá pelos anos 80). A volta dos Templários cegos que se orientam pelos sons e gritos e até descobrem suas vítimas ouvindo o pulsar de seus corações. No primeiro filme eles tiveram seus olhos comidos por corvos, aqui na sequência, foram cegados a fogo pelos aldeões. Agora eles atacam a população local justamente na noite de festejo por sua execução. Produção melhorzinha e mais dinâmica que o primeiro, tem Fernando Sancho e Frank Brana (veteranos dos faroestes), parece pop brazuca do mesmo período (a protagonista, Esperanza Roy é a cara da Georgia Gomide), tem seus tropeços cênicos como os zumbis-manequins sem o menor disfarce e tem o final mais besta da série. Mas, como o primeiro, é um show climático e impecável visualmente com os Templários a cavalo pelo vilarejo.
No ano seguinte a série teve continuidade com El Buque Maldito (O Galeão Fantasma, 1974) e aí a coisa ficou feia. Agora os Templários estão em um galeão oculto por uma névoa e os que inadvertidamente sobem a bordo são atacados. Duas garotas à deriva em um barco se ocultam no galeão e o pessoal que vem à sua procura faz o mesmo. Todo mundo passando a noite em um misterioso galeão apodrecido em alto mar!!! O pior é a tentativa de inserir uma trama sobre articulações de publicitários e o que menos fazia falta no filme 1 (justificativas) é o que mais compromete El Buque Maldito. Esteticamente o filme também falha na pobreza visual e as mãozinhas de papelão, insistentemente expostas, mas nada é tão vergonhoso quanto o galeão em miniatura, fotografado fora de foco para disfarçar. Aí não dá! Mas as figuras dos Templários ainda são atraentes e o final traz as belas cenas com os mortos-vivos se levantando na praia à luz do sol.
E para encerrar, em 1975 veio La Noche De Las Gaviotas. Um jovem médico e sua esposa, mudam-se para um vilarejo litorâneo onde os locais fazem sacrifícios de belas jovens para os Templários (que agora voltaram à velha e boa abadia em ruínas). Quando o doutor interrompe os sacrifícios, os Templários precisam atacar a vila em busca de vítimas. Sem mais o que fazer com o argumento – esgotado no primeiro filme – o diretor sabiamente aposta na estética colocando seus mortos-vivos agora em paisagens litorâneas com filtros noturnos. E encerra o assunto quando o doutor descobre a câmara com o ídolo que resguarda a força dos mortos-vivos.
• Destaque nos quatro filmes: a trilha sonora de Anton Garcia Abril, que deveria ser um canto-chão macabro e mais parece um coral de bêbados!
• Atacável por diversos motivos, mas é inegável que o diretor conseguiu uma variação de encanto muito particular com a série.
• Em 2020, a produção italiana The Curse of the Blind Dead tentou reaproveitar os personagens, mas em um resultado sofrível.
La Noche Del Terror Ciego 💀💀💀
El Ataque De Los Muertos Sin Ojos 💀💀💀
El Buque Maldito 💀
La Noche De Las Gaviotas 💀💀
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