Mas naquela noite uma lua enorme pairava por cima, projetando as muralhas num relevo ensombrado, de tal forma que quase se podia sentir sua ameaça, uma força sinistra e implacável. Pela primeira vez em décadas, Henry Taillou recordou de histórias que assustavam os jovens de seu tempo, de que o castelo fora abrigo de cruzados renegados, que cultuavam o demônio e bebiam sangue humano.
• Com texto ágil que embarca em mistérios históricos envolvendo a famigerada Ordem dos Templários, O Diabo Nunca Dorme é um terror sem maior empenho feito na média do período.
John McTell é um norte-americano, professor de história, que junto de sua jovem esposa, passa uma temporada em um chalé alugado no sul da França e investiga as lendas e mistérios sobre uma velha fortaleza local. E conforme as conversas com o padre Boudrie avançam em revelações e quanto mais o professor McTell investiga, mais acontecimentos estranhos ocorrem aleatoriamente entre os locais. McTell insiste em investigar as ruínas da fortaleza até que encontra um livro, nada menos do que o grimoire de Guilhem de Courdeval, o Templário temido até pelos seus próprios companheiros da Ordem, que fazia cruéis sacrifícios ao demônio Belial! Fascinado pela descoberta do livro ele passa a traduzir o conteúdo até perceber que pode estar servindo de condutor ao espírito de Guilhem de volta ao mundo dos vivos!
Quase em transe, seguindo algum instinto que não podia definir, deixou que a mão esquerda se projetasse para a frente, a palma repousando sobre o livro, cobrindo o estranho símbolo. Mas retirou-a imediatamente , engolindo em seco, recordando as palavras do padre: "Encadernado com a pele de um herege esfolado vivo."
"Madame, se um espírito maligno estivesse empenhado em alguma coisa além de fazer o mal, o que poderia ser?", "Tomar um corpo", ela respondeu sem a menor hesitação.
Escrito na forma habitual do suspense literário, interrompendo capítulos a cada revelação e alternando narrativas paralelas para forçar a continuidade de leitura, o livro se insere na linha pulp de criação despretensiosa. O autor Daniel Rhodes (pseudônimo de Neil McMahon) consegue um mistério que, mesmo preso aos modelos de roteiro típicos do período, cativa a atenção, especialmente na construção crescente do final. Curiosamente o autor dá mais espaço aos dramas pessoais do que explora as possibilidades do fantástico. E o padre Boudrie acaba sendo um personagem até mais interessante do que o professor, por seus pecados secretos, uma possível filha que ele precisa defender das forças do mal e fé oscilante.
Como devia ser inebriante se embrenhar pelo ocultismo, ele pensou, como o mundo cotidiano devia parecer insípido em comparação com a busca dos supremos mistérios - não através da paciência persistente do santo, mas pela luta sombria e arrebatadora com as forças das trevas, imaginárias ou não.
Considerando uma narrativa que cita Templários e Inquisição, acontece muito pouco em O Diabo Nunca Dorme. O problema maior é que ao intercalar acontecimentos paralelos e sugerir mistério e decifrações, o autor toma mais da metade do livro em preparação de um terror que só esquenta no final... Sem aprofundamentos históricos ou religiosos (o Padre Broudie é o segundo condutor da narrativa), o máximo de ambição perceptível no romance é parecer um roteiro de filme. Manobra que parece inevitável no pop-fantástico moderno. Apesar de tudo, merece seu espaço pela simpatia em nível de cinema B.
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