Midsommar (EUA, 2018)
Com Florence Pugh, Jack Reynor, Vilhelm Blomgren, William Jackson Harper, Henrik Norlen, Will Poulter.
Todos têm função na comunidade. Suspense e horror na onda das comunidades alternativas que faz uma impecável imersão pelas vias do emocional. Dani é uma jovem que acaba de passar por uma experiência das mais traumáticas com a perda de sua família. Para agravar o quadro, seu namorado Christian não parece mais interessado nela, apenas mantém o contato por causa da situação limite em que Dani se encontra. Quando Christian e três amigos da faculdade anunciam que vão passar uma temporada em uma comunidade no interior da Suécia, Dani acha que ir junto pode ser uma ótima maneira de revigorar sua situação.
Então tudo é perfeito e harmonioso na chegada de Christian e seus acompanhantes ao bucólico posto de planícies gramadas entre montanhas, sol pleno, todo mundo vestido de branco em comunhão com a natureza e virtudes que parecem vir de tempos pré-industriais. Mas a comunidade, a princípio paradisíaca com sua receptividade incondicional aos estrangeiros, tem seus mistérios e regrinhas e quanto mais o grupo convive e mais sonda suas bases estruturais, mais se convence de que algo muito errado rege os hábitos daquele povoado. Os que discordam de regras ou questionam demais somem misteriosamente.
Na onda de outros filmes que curiosamente apontam as sociedades alternativas como tão (ou mais) restritivas e intolerantes que a sociedade "normal", Midsommar não vai muito além de outros como O Apóstolo ou O Último Sacramento que exploravam o mesmo discurso. O que salta à percepção inicialmente, como diferencial, é a opção estética pelo suspense construído em dias de sol pleno – que o título nacional abestado insistiu em destacar. E isso é o principal elemento de deslocamento perceptivo que o filme emprega genialmente bem.
O incômodo, sugerido nos constantes sorrisos e a calmaria perene, se acentua em pequenos conflitos. Todos ali têm uma serventia, mas caso alguém não se enquadre nas condutas, pode servir a ritos e fertilização e até fertilização do solo. A comunidade acolhe a todos. Mas como terror supremo fica a situação de Dani que, em seu quadro de desagregação emocional e social, acaba por se aliar à configuração, mesmo sabendo das desvirtuações internas.
Repleto de detalhes subliminares (como a face nas árvores atrás da procissão), ou aparições (como a face que Dani vê no espelho), Midsommar é, como muitos filmes fantásticos modernos, de difícil decifração em seus detalhes e entrelinhas. Fica a possibilidade de rever o filme como uma grande (e saborosa) charada narrativa.
• Depois do bem recebido Hereditário, o diretor Ari Aster se firmou aqui como nova promessa ao fantástico contemporâneo.
Expectativa 🌄🌄🌄 Realidade 🌄🌄🌄
Viva, viva, a sociedade alternativa... |
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