5 de janeiro de 2021

Incubus - um ousado sleazy literário dos anos 70.

Incubus

Ela jaz nua arquejando de medo e com o ventre palpitando ela é uma espécie da paródia sinistra de um leito nupcial ansiosamente esperando o intenso e ardente ritmo de seu esposo cujo nome é dor.

Incubus de Ray Russell é um caso curioso. É um terror que se sobressai da média por seus detalhes violentos e óbvia intenção em chocar. Na cidadezinha de Galen, mulheres começam a ser atacadas e mortas brutalmente por um estuprador. Sam Jenkins, o conhecido médico local e Julian Trask, antropólogo que orientou seus estudos ao sobrenatural [Falando francamente, não sou mais um antropólogo. Meu campo agora é chamado, Culturas Exóticas], conduzem a narrativa em suas investigações e debates teóricos. Mas, mesmo com a força policial atuando, mais e mais mulheres são mortas pela insuspeitada entidade maligna. 

O que estamos procurando é uma criatura rara que existe para um único propósito. Acasalar-se com fêmeas humanas e perpetuar sua raça. Ele não deseja matar. Apenas procriar. Mas seu físico o torna mortal.

Com capítulos curtos e texto rápido, a leitura flui muito bem. Surpreende imediatamente a desenvoltura nas descrições e detalhes que resvalam em erotização às raias do pornográfico (até com uma cena de masturbação pela criatura observando um casal). Intercalada à narrativa principal, uma longa sequência de tortura medieval é revelada em blocos separados acrescentando um agoniante suspense como bônus à trama central, e contribuindo à ebulição do drama. Mas pesa negativamente alguns tropeços: Trask, com toda o seu estudo no oculto, praticamente não interfere em nada, ou a ideia ridícula de proteger todas as mulheres da cidade confinando-as em um abrigo (!!!) ou ainda a filha de Jenkins, que em pleno pânico coletivo pelos ataques da criatura, sai da casa dos pais à noite, com o namorado, para troca de abrigo!

O problema do livro é que parece ter sido feito às pressas, na onda dos sucessos demoníacos dos anos 70 (O Exorcista, A Profecia) e muita coisa não se justifica muito bem como as enrolações na ida ao cinema (a erudição forçada na citação de Maltese Falcon). Seja como for, com seus tropeços narrativos, observações machistas e racistas, e um pouco de divertida blasfêmia, Incubus é uma história potente e direta, que virou aquele filme irregular dirigido por John Hough em 1981. Um livro de detalhismos ousados e violentos que criam uma atmosfera assustadora bem adequada ao gênero e pode ser apreciado como um "sleazy B" em literatura.

Cada mulher foi publicamente esfolada de cima a baixo como uma enguia, descascada do couro cabeludo até a sola dos pés e depois todas as seis foram amontoadas dento de um barril de salmoura até o pescoço. 

• Ray Russell (1924 - 1999) teve uma curiosa ligação com o cinema. Sua novela Mr Sardonicus (1962) virou filme pelas mãos de William Castle. Roteirizou filmes de Roger Corman como Premature Burial (1962) e O Homem dos Olhos de Raio-X (1963) e teve uma considerável carreira de escritor.

Leitura Radical
Gratuito e ligeiro, faltou elaboração.

Leitura Passional
Abusado e violento.
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Incubus

Incubus, Ray Russell, 1976
Editora Novo Tempo, Rio de Janeiro, RJ, 197?
270 páginas

Incubus

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