The Lighthouse (EUA, 2018)
A úvula de Robert Pattinson. Drama e loucura nesta obra singular de insuportável progressão. Willem Dafoe e Robert Pattinson têm a missão de zeladores de um farol por quatro semanas. A relação não muito amistosa no início vai degenerando com o trabalho árduo e as condições desfavoráveis. Quando o resgate evita se aproximar por causa das tormentas, os dois ficam por tempo indeterminado no local, à mercê de crescente loucura e uma possível força que atua no farol.
Em uma narrativa de sutilezas imagéticas, nada é claramente definido. Uma suposta loucura assola a região e das intempéries naturais até as gaivotas raivosas, a suspeita de que algo interfere sorrateiramente vai sendo construído de forma sutil. Talvez sutil até demais... Alguma imagens são inseridas como ilustrações na narrativa e os enigmas são de difícil decifração uma vez que a essência do filme é o drama de isolamento e a consequente demência causada pela situação. Mas também temos a leitura extra de que um mal maior está atuando nos desarranjos mentais. Pattinson tem visões logo que chega ao local e Dafoe, que é veterano na função, não permite a ninguém interferir nos cuidados com a lâmpada e pode já estar alterado (infectado?) há tempos. "Você nem é mais humano, trabalhando longe de pessoas por tanto tempo".
A condição de abstinência sexual também é um elemento importante na mistura narrativa e a doentia proteção de Dafoe com a luz do farol sugere segredos além das percepções normais. Se Pattinson pode se satisfazer com a sereia, então Dafoe tem uma possível relação consumada no alto da torre? Nada fica completamente revelado a quem assiste, mas o grito de Pattinson ao abrir o recipiente do farol é coisa que fica na memória, significando uma abominação além de possíveis explicações. E nesse ponto, O Farol se justifica como um dos melhores filmes já feitos na equivalência ao horror-cósmico literário. Ao encontrar um engradado de bebidas e se entregar a uma bebedeira desesperada, a dupla começa a ter percepções alternativas da realidade que os envolve. E os detalhes sugestivos se acumulam: troca de nomes e identidades com o trabalhador anterior Ephraim Winslow, Dafoe como uma entidade de luz nos olhos em uma imagem-gravura e invocando deuses marinhos em um momento de fúria, a simetria e beleza das lentes Fresnel contrastando com a escuridão e sujeira reinantes.
No elenco mínimo, Williem Dafoe pode ser o novo Gene Hackman. O cara está sempre bem e sempre bom. Robert Pattinson é um ator de verdade, já escapou do estigma de Crepúsculo (ainda bem!) e a beleza exótica de Valeriia Karaman serve perfeitamente à cena da sereia.
Tecnicamente o filme faz de sua incrível fotografia em preto e branco e de um enquadramento "vintage" (4:3), uma associação ao cinema mudo (Pattinson em close na água parece um frame de Encouraçado Potemkin!) fazendo o show se deslocar para "outra era", o que para apreciadores de horror-cósmico tem um significado especial, e ainda cria uma incrível acentuação à claustrofobia geral.
Expectativa 🐙🐙🐙 Realidade 🐙🐙🐙🐙
O sangue de Netuno tem poder... |
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