21 de maio de 2021

Histórias de Fantasmas - vitoriano raiz.

Histórias de Fantasmas

Tom olhou para a cadeira e, de repente, enquanto olhava para ela, a mais extraordinária mudança parecia estar acontecendo. O entalhe do encosto aos poucos assumiu as característica e a expressão de um rosto humano velho e murcho de tão enrugado [...] e a velha cadeira agora perecia um velho muito feio, do século anterior.

Histórias de Fantasmas reúne treze contos do mais conceituado escritor do período vitoriano. No texto que flui como uma elegante conversa entre leitor e autor, temos um desfile de situações entre o humor apavorante dos duendes dando uma lição em um coveiro rabugento às visões premonitórias de O Sinaleiro, o conto mais reprisado de Dickens em coletâneas do gênero. Quase como regra, as situações envolvem o transporte de um personagem, por vias do sonho ou o delírio, para percepções alteradas, sempre em clima febril ou humorado. E as estruturas dos contos variam dos mais casuais, como Fantasmas de Natal, uma série de relatos curtos como uma irreverente conversa com o leitor, aos mais elaborados, como o envolvente A Noiva do Enforcado. Entre aparições e realidades paralelas, o tom de humor refinado da maioria dos contos pode parecer até incoerente, mas é justamente esse tom repleto de comentários irônicos que intensifica as inserções macabras.

Ele não estava só, pois do outro lado da lareira, sentada de braços cruzados, estava uma criatura hedionda e encarquilhada, olhos injetados e muito encovados, rosto cadavérico meio encoberto por mechas de um cabelo  preto, grosso, emaranhado e cheio de pontas irregulares.

Considerando a média bem humorada dos contos de Dickens em sua primeira fase e sua escrita de refinadas observações, destacam-se algumas surpresas como a morbidez poética de Uma Criança Sonhou Com Uma Estrela, a trágica narrativa de Uma Confissão Encontrada no Cárcere à Época do Rei Carlos II, que se aproxima de seu contemporâneo E. A. Poe pelo tormento em primeira pessoa, assim como o incômodo Manuscrito de Um Louco, narrado pela demência do protagonista no cárcere e fora dele.

Aquele vulto nunca se move, nunca franze a testa, nem mexe os lábios como outros que ocupam este lugar algumas vezes fazem. Mas ela é muito mais apavorante para mim, até mais do que os espíritos que me provocam há tantos anos - ela me vem fresca do túmulo e é tão cadavérica. 

O Sinaleiro
Manuscrito de um Louco
A História do Caixeiro-Viajante
A História dos Duendes Que Sequestraram Um Coveiro
A História do Tio do Caixeiro-Viajante
O Barão Grogzwig
Uma Confissão Encontrada no Cárcere à Época do Rei Carlos II
Para Ser Lido ao Anoitecer
O Julgamento Por Assassinato
Uma Criança Sonhou Com Uma Estrela
Fantasmas de Natal
A Noiva do Enforcado
Visita Para o Sr. Testante


Leitura Radical
Elegante demais...

Leitura Passional
Insuperável vitoriano matriz
___________________
Histórias de Fantasmas
Charles Dickens
Editora L&PM, 2017
190 páginas

Charles Dickens

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