24 de julho de 2021

Vingança em Alto Mar - um thriller pouco citado de Frank de Felitta

A tranquilidade era incrível. O silêncio parecia emanar da velha cômoda, da cama e das cortinas das vigias. A intervalos, escutavam o leve som de uma onda lambendo o costado do Penny Dreadful. Lá em cima, os McCraken deviam estar sentados no escuro, como os capitães de antanho, refletiu Phil.

Suspense obscurecido pelos títulos mais famosos do autor Frank de Felitta. Com o destaque a As Duas Vidas de Audrey Rose e A Entidade na literatura fantástica (e no cinema) de seu tempo, este pequeno romance de suspense marítimo, que entretém em seu corriqueiro nível B, ficou meio escondido pelas prateleiras e resenhas. Como regra do período, a narrativa segue os moldes de um roteiro de cinema na história de Tracey e o amante Phil, ambos em aventura extraconjugal. 

Phil e Tracey embarcam no Penny Dreadful, iate utilizado como cruzeiros de férias pelos proprietários, o casal Jack e Penny McCraken, ambos experientes na vivência marítima e nos serviços de lazer aos pagantes. E o cruzeiro de férias no iate, que começa harmoniosamente, vai gradualmente se tornando um pesadelo depois que um defeito mecânico coloca os dois casais à deriva no oceano. A grande virtude de Fellita é narrar de modo ligeiro e repleto de trivialidades e nunca deixar claro o que realmente motiva o casal McCraken quando Phil começa a desconfiar das decisões arbitrárias do capitão Jack. As decisões em submeter a todos a uma rotina rígida, alcança o extremo da provação física no racionamento de alimentos e o cúmulo de submeter os hóspedes a uma suspeita ação de rebocar o iate remando em um bote! 

– Os senhores já não são passageiros pagantes num cruzeiro de recreio. A tempestade e a corrosão das baterias alteraram tudo - tudo. Agora, são membros da tripulação, com deveres e responsabilidades.

Mas nada soa forçado na narrativa simples e fluente do autor e Vingança em Alto-Mar (título sem sentido, que pode jogar expectativas errôneas no leitor), passa ligeiro em sua construção equilibrada de suspense em descrições corriqueiras e inserções incômodas, como a sugestão de violência no preparo de peixes para uma simples refeição ou em frases soltas pelos diálogos. ( – A vida é cheia de riscos, Sr. Williams – disse ele, sorrindo para Phil.) O próprio nome da embarcação, Penny Dreadful, referenciando os folhetins sensacionalistas de mistério, já insinua o suspense e surpresas que permanecerão até a violência final.

Uma sombria quietude passou a reinar no barco. Phil refletiu que aquele era o primeiro sinal inequívoco de que não sobreviveriam.

• A edição displicente da Francisco Alves (repleta de vergonhosos erros de revisão) por algum motivo ficou de fora da série Mestres do Horror e da Fantasia.
• Curiosamente, a capa traz impresso, "leia o livro antes do filme", mas ainda não localizei se algum filme foi feito à partir desta novela.
• Frank de Felitta (1921-2016) teve seu merecido destaque no pop-fantástico dos anos 70. Iniciou carreira em roteiros para séries de TV (meados dos anos 50) e também dirigiu longas (para cinema e TV), com trabalhos interessantes como A Vingança do Espantalho (1981), Os Dois Mundos de Jennie Logan (1979) e Os Dobermans Atacam (1973).


Leitura Radical
Suspense modesto

Leitura Passional
Com cara de anos 70
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Vingança em Alto-Mar
Sea Trial, Frank de Felitta, 1980
Editora Francisco Alves, Rio de Janeiro, RJ, 1981
227 páginas

Vingança em Alto-Mar

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