Quadrilha de Sádicos - a família toda.

The Hills Have Eyes (EUA, 1977)

Diret Wes Craven
Com Dee Wallace, Susan Lanier, Michael Berryman, Martin Speer, Robert Houston, Janus Blythe, James Whitworth.

Selvageria clássica. The Hills Have Eyes é simplesmente um dos grandes do cinema de terror moderno. Serviu especialmente a solidificar a carreira do diretor Wesley Craven, que vinha do controvertido Last House on the Left (1972). Um declarado fã de Texas Chainsaw Massacre (1974), o diretor tentou aqui fazer o seu Massacre. E conseguiu! The Hills Have Eyes é daqueles filmes que estigmatizaram o terror B nos anos 70 com sua fotografia naturalista e crueza estética que passava longe das produções de grandes estúdios. No gênero ele só perde para o clássico de Tobe Hooper e tornou-se uma referência no terror in wilderness.

A premissa simplória é sobre uma família em viagem de trailer até a Califórnia e que se perde em um atalho, distante de áreas civilizadas. A região rochosa é habitada por uma tribo de regredidos que vive de pilhagens dos que se aproximam e logicamente a família será a vítima seguinte, tendo que lutar pela sobrevivência com os meios de que dispõem. Cruelmente dizimados, e dispersos em ações isoladas, vivem uma impossível luta por sobrevivência.

Impiedoso e integrando a precariedade de produção como virtude conceitual, o filme acumulou controvérsia e popularidade em sua ousadia sem limites. E se Texas Chainsaw Massacre apelava ao desconcertante aos sentidos em seu primoroso tormento estético, The Hills optou pelo francamente violento, e o filme ainda guarda seu impacto de descaso pelos personagens, que são sumariamente eliminados no meio da fita. Conta-se que no roteiro original, o bebê virava mesmo almoço dos degenerados, mas o elenco se opôs à ideia. Ainda assim, o ataque ao trailer, na metade da fita, guarda seu "encanto cênico" como um dos mais apavorantes momentos de violência no cinema.

Versões recentes restauraram algumas passagens e incluíram o final original de reencontro entre os familiares e amizade com a garota Ruby. Uma curiosidade interessante pela raridade, mas que reduz demais o impacto do final original – notavelmente similar ao de Tobe Hooper.

• O filme consagrou Michael Berryman (logo depois de sua participação em Um Estranho no Ninho) como o esquisitão mais querido do cinema de terror.

• Detalhe macabro que a gente sempre esquece: o freak arrancando a cabeça do passarinho para beber o sangue!

• Cara-de-pau sleazy: Papa Jupiter troca ideia com a cabeça decepada do chefe de família enquanto come sua carne!

• Melhor atriz: Susan Lanier! Seu ataque histérico no trailer é tão bom quanto Marilyn Burn sem TCM!

E nos tropeços de carreira, Craven tentou fazer uma sequência que ficou inacabada e foi engavetada por falta de verbas. Mas em 1984, com o sucesso de Nightmare on Elm Street, inventaram de ele retomar a sequência e The Hills Have Eyes 2 veio para queimar a cara dos envolvidos. Agora, o jovem Bobby – um dos poucos sobreviventes da matança – e sua turma de amigos motociclistas se aventura em regiões rochosas para praticar manobras e vão parar justamente onde? Na mesma região habitada pelos canibais degenerados. 

Na falta de material filmado, a saída da produção foi enxertar – em modo woodenface gratuito – flash-backs de personagens para usar material do filme anterior e conseguir encher o tempo da fita. Até o cachorro Beast tem flash-back!!! O resultado é desastroso e prova dos perigos profissionais e armadilhas do mercado. Mesmo que não houvesse a necessidade de enxertar cenas, o material da sequência era visivelmente sofrível, com personagens ruins, situações fracas e inúmeras referências a TCM. Dificilmente teria composto um filme digno de seu antecessor.

Placar Black Phillip
The Hill Have Eyes (1977) 👿👿👿👿👿
The Hill Have Eyes 2 (1985) 👿

Mas o mundo da cultura dá voltas e em 2006, a fama maldita do clássico de Wes Craven foi resgatada no ótimo The Hills Have Eyes (Viagem Maldita) e Alexandre Aja. A época é outra e os "valores de produção" empregados em meados dos anos 70, hoje são impensáveis, a começar pela qualidade técnica na captura de imagem. E o que antes impressionava por sua crueza naturalista quase pornográfica, hoje peca pela limpeza digital no registro de imagem. Mas Alexandre Aja é um fã dedicado e entregou um filme sufocante e violento como se deve. Fez algumas pequenas alterações e expandiu algumas ideias em um excelente resultado que não envergonha o original. Resta considerar, inevitavelmente, que o profissionalismo do filme moderno passa longe da perturbadora marginalidade do original. Sinal dos tempos..... 

O resultado comercial do filme de Aja, abriu espaço à uma sequência, e no ano seguinte tivemos The Hills Have Eyes 2 (O Retorno dos Malditos), com direção de Martin Weisz (estreante em 2006 com Grimm Love). Aqui um grupo de soldados da Guarda Nacional em treinamento no deserto são atacados pela família de canibais. O problema desta sequência é que fica difícil torcer por alguém: um bando de fardados virando ração na mão dos dementes. Impossível simpatizar com qualquer um dos lados da pancadaria e resta a satisfação de ver um respeitável festival de porradaria sangrenta. 

Placar Black Phillip
The Hill Have Eyes (2006) 👿👿👿👿
The Hill Have Eyes 2 (2007) 👿👿