6 de outubro de 2021

Straus - um thriller sem thrill. Uma curiosidade formal em literatura.

Straus

Talvez deva escrever sempre no presente do indicativo - é uma forma cômoda que evita as armadilhas de estilo. É como se o próprio escrever chegasse atrasado. Os tipos de minha máquina se embaralham todos. Tenho de separá-los e mancho os dedos de tinta. Algum dia escreverei um romance todo no presente - estou cheio de planos.

• Uma curiosidade literária em circuito fechado. Straus é um romance do escritor dinamarquês Anders Bodelsen que tentou uma variação na forma narrativa. Conta a vida de um escritor de novelas policiais chamado Bang que acaba, ele próprio por cometer um crime. Bang tem seus problemas em tentativas de reconciliação com a ex-esposa Nadja e parece sempre secundado, no mercado editorial, pela fama de outro escritor de novelas policias chamado Straus. Depois do crime, Bang precisa se ocultar e se disfarçar chegando ao travestimento para se manter irreconhecível durante buscas e investigações. 

A variante é que o próprio autor comenta suas ideias e motivações no desenvolvimento da narrativa. Troca nome de personagens e faz considerações sobre seu estilo e escolhas de escrita como se o leitor estivesse acompanhando o processo criativo. E o livro se compõe (ou se decompõe) em inúmeras descrições e detalhes que pouco ou nada acrescentam ao que deveria ter constituído uma trama principal. Será possível que o conteúdo central seja justamente a dispersão? Se sim, o autor foi eficiente na construção de um grande painel errático, quase abstrato à percepção do leitor.

No conjunto Nadja é o problema. Nadja e Straus, mas Nadja primeiro. Um dia desses vou me sentar e escrever sobre ela, sem pensar se aproveito ou não isso no romance. É claro que vou usar meus olhos, e vou encontrar um estilo de diálogo para ela.

Enquanto escrevia, Bendix fumou os três charutos a que tinha reduzido seu consumo matinal. O capítulo fora cuidadosamente planejado com antecedência e tinha uma série de diálogos, de forma que o trabalho correu tranquilo. No entanto sentiu que havia alguma coisa fundamentalmente errada. 

É bem interessante o acompanhamento dos processo mentais do autor sobre a própria obra que se desenvolve, mas só até certo ponto, pois, apesar de curto, o livro se arrasta perigosamente sem um foco principal, ou sem um grande mistério que impulsione a leitura adiante. Acaba por se constituir de inúmeras situações mentais e referências culturais que se perdem pelas páginas até o - agora sim, finalmente - suspense final.

A (má) impressão que fica é que o autor teve uma grande sacada em escrever um romance alternativo (novela no caso) onde pudesse inserir comentários comportamentais, sociais e políticos, além de variações estilísticas e fuga de modelos recorrentes, mas não soube muito bem como resolver isso tudo. E até a justificativa final fica devendo em consistência. Resumindo: a variação é genial, mas o resultado é monótono. Straus fica na história como uma curiosidade literária, que pode ser de grande interesse a iniciantes em escrita ficcional.

Como de costume, Bang sentou na frente, junto ao motorista, e puxou conversa para espantar o sono. Um dia poderia escrever sobre um chofer de táxi, logo, é bom ir conhecendo seu trabalho. Como é que o taxímetro funciona? Pode-se alterá-lo, enganar a companhia de fiscalização? Quem é o proprietário do carro?

Leitura Radical
Monótono e arrastado

Leitura Passional
Original na proposta
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Straus
Straus, Anders Bodelsen, 1971
Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, RJ, 1976
159 páginas

Strauss

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