6 de novembro de 2021

A Excursão - a paranoia velha guarda em um mistério mediano.

a excursão

O mundo livre está diante do mais sutil desafio físico e psicológico da sua história. O terrorismo organizado, o banditismo, o assassinato, a sabotagem econômica – os truques mais sujos de que se tem notícia, contra os quais a polícia comum e as ações militares se revelaram desastrosamente inadequadas.

A Excursão é um romance de mistério do mesmo autor de O Segundo Rosto. Um trabalho interessante e não totalmente atropelado pela história, que procura equilibrar mistério, dramas pessoais e comentários políticos. Não faz uso de um personagem central para conduzir sua história, mas o turista Walter Florentine, integrante da tour à um país da América do Sul, acaba servindo de fio condutor por sua trajetória de mero turista, que começa a desconfiar de seus impulsos pessoais até ser raptado quando questiona demais as motivações da excursão e acaba sendo acolhido por guerrilheiros que vivem nas montanhas. 

O autor dinamiza a narrativa na alternância entre as ações dos personagens. O contador Walter Florentine, o embaixador J. McBush e o organizador da excursão, Harry Gurgan, se alternam conforme a necessidade de revelações da história. Mas o texto se arrasta um pouco nos pormenores dramático-românticos entre algumas passagens. Ainda assim, consegue manter os mistérios paralelos da excursão e de uma operação militar secreta até o epílogo de ação. Pena que não se defina entre os aspectos emocionais, ou ficcionais ou políticos que levanta em sua construção. E muita coisa fica sem definição clara (talvez por problemas em uma tradução adequada).

E é isso o que a Tour faz. É só o que ela faz. Proporcionar um pequeno alívio... à angústia emocional dos abastados.

Querem experiência emocional – nós lhe forneceremos. Sim, Estamos no ramo da experiência emocional.

Como em O Segundo Rosto, aqui também uma misteriosa companhia oferece serviços de turismo a um publico selecionado. O mistério é que os inscritos não sabem exatamente, ou não se importam, em como ingressaram na aventura e muitas coisas que sucedem e suas motivações parecem regidas por forças além de sua consciência. Até que as revelações envolvem uma operação militar e testes com um engenho de destruição em massa!

– Uma máquina de matar gente! Nada de novo até aí. Um arco e uma flecha também são uma máquina de matar gente. O mesmo se pode dizer de uma atiradeira e de uma pedra. Apenas esta é mais eficiente. Equivale a milhões de atiradeiras e de flechas.

– Nisso se resume a nova guerra tecnológica não é? Em descobrir meios de matar as pessoas sem ter de tocá-las, sem vê-las, sem ter que limpar a sujeira. 

Ambientado em um país não identificado na América do Sul, a narrativa é repleta de observações racistas e incorretas, mas muito coerentes como parte do drama proposto. Curiosamente, apesar de a trama ser bastante procedente da paranoia política dos anos 60, muita coisa ainda soa atual nos delírios de dominação internacional e na supremacia de nações ricas sobre pobres.

Deem-lhe o nome que derem – rebelião, insurreição, guerras de libertação nacional – não importa. A questão é que nós, como homens livres, temos que demonstrar a nossa capacidade de defender-nos por novos meios. Temos que contar com nossa inventividade – novos métodos, novas técnicas, novos meios de enfrentar essa gente.


Leitura Radical
Perde tempo com pormenores.

Leitura Passional
Paranoia vintage.
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A Excursão
The Tour, David Ely, 1967
José Olympio Editora, Rio de Janeiro, RJ, 1969
230 páginas

David Ely - A Excursão

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