Tal grau de decomposição teria levado meses para ocorrer, mesmo naquele clima. Ou talvez não, percebeu Jeff, inclinando-se para afastar mais plantas, dessa vez com cuidado, delicadamente. Talvez fosse a planta que tivesse feito aquilo, devorado a carne, alimentando-se de seus nutrientes.
• As Ruínas é um romance de horror em formato experimental que conta com uma raro poder de envolvimento no qual mesmo as passagens que se alongam e arrastam a narrativa servem a constituir o clima extenuante que caracteriza a obra como um todo.
O livro conta a aventura de dois casais de jovens amigos em férias no México que dividem seu tempo entre ociosidades diversas, na praia ou em bebedeiras. Eric, Jeff, Amy e Stacy, conhecem um guia, o alemão Mathias, e decidem ajudá-lo na localização de seu irmão. Munidos de um mapa rudimentar, desenhado à mão, buscam pelas ruínas maias, onde o irmão de Mathias supostamente foi trabalhar, levado por uma recente namorada.
Mas o mapa os leva a uma suspeita elevação isolada no meio de uma mata, evitada pelos moradores locais, e se aventuram em sua exploração. O drama se consuma quando os habitantes locais os impedem de abandonar o elevado onde uma desconhecida espécie de planta rasteira se comporta de modo incomum. E o horror toma a narrativa quando o grupo perde a razão, sem água nem mantimentos e quando percebe que a planta que infesta o local parece ter vontade própria e age premeditadamente aguardando a decadência física de cada um deles!
Uma brisa ocasional soprava sobre ela e seguia pela trilha, agitando as folhas, fazendo-as sussurrar. Stacy tentou escutar o que elas estavam dizendo, tentou associar palavras àquele som, mas sua mente não estava funcionando direito, ela não conseguia se concentrar.
A primeira surpresa formal do livro é a ausência de capítulos! As Ruínas tem texto contínuo e pequenas divisões que servem como pausas dramáticas ou temporais. Com um encadeamento de texto incrivelmente fluente o livro segue prazerosamente com seu invejável naturalismo de exposição. De situações casuais ao preocupante, o autor constrói sua trama em um texto corriqueiro que simplesmente engole o leitor em um processo contínuo e implacável até o sangrento final. Eric é o primeiro a perder a razão acreditando que a planta que cobre o elevado se infiltrou sob sua pele.
– Está bem aqui embaixo. Estou sentindo. Ela deve sentir que eu estou cortando, de algum jeito deve entrar mais fundo em mim. Ela está se escondendo.
– A gente tem que tirar ela aí de dentro – insistiu Eric. – Ela está se espalhando por toda parte.
A genialidade de Smith é dar o devido espaço aos pensamentos íntimos de cada um dos personagens, fazendo assim com que o leitor participe de suas lembranças e crescente desespero de forma muito próxima. Observações inúteis e reações infantilizadas no íntimo dos personagens criam uma incrível autenticidade emocional e intensificam o pavor crescente em volta deles de modo eficiente. Inevitável associar cada personagem, em seus equívocos e derrotas pessoais ao título. Cada um deles também é uma ruína...
Íntegro, direto e envolvente, As Ruínas ganha espaço fácil como um dos bons romances fantásticos da atualidade.
• Infelizmente o livro deu origem a um filme mediano que não foi salvo nem pelo roteiro do próprio autor.
Um pouco enrolado em alguns pontos.
•
Leitura Passional
Íntegro e apavorante em sua imersão.
As Ruínas
The Ruins, Scott Smith, 2006Editora Intrínseca, Rio De Janeiro, RJ, 2007
367 páginas
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