People Under the Stairs (EUA, 1991)
Conto de fadas hardcore. Geralmente se critica a obra do diretor Wes Craven aplaudindo seu início de rebelde outsider da indústria para depois atacá-lo pelo sucesso de Nightmare on Elm Street (A Hora do Pesadelo). Pois bem, se sua ousadia formal dos tempos de Last House on the Left e Quadrilha de Sádicos cedeu aos imperativos do mercado pop do terror oitentista, o que dizer deste Criaturas Atrás das Paredes? Uma aventura-de-terror repleta de comicidade e com uma estrutura formal única no fantástico cinematográfico.
Craven vinha de erros e acertos na carreira com o desastroso Deadly Friend, o ótimo Serpent and the Rainbow e o equívoco de Shocker. Tudo podia acontecer neste Criaturas Atrás das Paredes, e por uma configuração mágica, tudo se alinhou para o benefício do filme! Erros e acertos da produção se converteram em uma obra única que só encontraria espaço (e legitimidade) no cinema fantástico.
O filme conta a aventura de descoberta do garoto Fool, que, para arrumar o dinheiro do aluguel e não ter sua família despejada, aceita auxiliar Leroy (Ving Rhames) em um assalto, justamente no casarão dos proprietários de grande parte das casas da vizinhança. Aproveitando a ausência do casal proprietário, Leroy e Fool entram no misterioso casarão para descobrir segredos pavorosos. Além das suspeitas por uma coleção de moedas de ouro e dinheiro retido ilicitamente, a casa funciona como uma fortaleza e os mantêm presos no interior. Fool irá descobrir inúmeros habitantes vivendo aprisionados no porão e regredidos a condições animalescas e poderá acabar se tornando um deles se não encontrar uma saída!
A situação básica do casal vilão que aprisiona crianças remete claramente à estrutura de fábula e a maior curiosidade e virtude do filme é como conseguiu cumprir sua metragem com uma situação tão simplória. Fool corre e se esconde em cômodos e vãos pela maior parte do tempo, faz amizade com Alice, a jovem que supostamente é filha do casal, dribla os ataques de Prince, o rottweiller guardião, desvenda a verdade do local – em uma jornada paralela a seu amadurecimento – em uma trajetória que poderia ter posto o filme a perder devido à repetição estética. Mas não perde a dinâmica narrativa em nenhum momento, misturando ingredientes ousadamente na constituição de uma fábula macabra.
De uma aventura leve com os corre-corres pela casa e ataques do cachorro, o filme assume o horror nos crimes insanos do casal e alguns detalhes explícitos e sangrentos que deram problema com a MPAA, na época. E o que poderia ter sido um tropeço – a mistura de violência, farsa, comicidade e insanidade – acaba sendo a maior virtude do filme, em sua conjunção sem paralelos no cinema fantástico. Na prateleira alternativa, Criaturas Atrás das Paredes fica ao lado de Sentinela dos Malditos, Silent Night Bloody Night e outros que, por vias indecifráveis, conseguiram um resultado apreciável, apesar de não referenciarem nenhum modelo conhecido.
No elenco, destaca-se Sean Whalen como Barata, que acabou virando "ator cult" em participações posteriores. Everett McGill e Wendy Robie são o casal insano, ambos vindo da série Twin Peaks. Ving Rhames em um de seus primeiros destaques, já evidenciava sua intensidade e simpatia. Brandon Adams apareceu dançando no clip Smooth Criminal, e seguiu carreira convencional na TV.
• Melhor engenhoca: a escada que vira rampa!
• Melhor vilão: Everett McGill, se empenhando voluptuosamente nas ações criminosas e vestido com seu "figurino sado-masô"!
Black Phillip já sabia 😈😈😈😈
"O Craven se vendeu!" "Não se vendeu!" |
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