Opera (Itália, 1987)
Com Cristina Marsilach, Urbano Barberini, Daria Nicolodi, Ian Charleson, William MacNamara, Barbara Cupisti, Carolina Cataldi.
Genial histrionismo técnico. Suspense do cultuado Dario Argento e um de seus melhores momentos em revisitação às convenções estéticas de sua obra. Beth é uma jovem cantora soprano que tem sua grande chance na encenação de Macbeth quando a cantora principal sofre um acidente. Mas Macbeth tem a tradição de dar azar aos envolvidos e logo os próximos de Beth serão mortos por um misterioso assassino.
Claramente inspirado em Fantasma da Ópera, este é um dos mais imersivos e divertidos thrillers do diretor. Salta imediatamente à percepção a "câmera-olho" mais alucinada já vista no cinema do diretor, especialmente na primeira meia hora com seus movimentos furtivos e pontos-de-vista em deslocamento, culminando na incrível sequência com a visão dos corvos que sobrevoam a plateia no teatro (trinta anos antes dos drones!).
Na obra (opera) do diretor, o filme Tenebre (1982) marcou seu fim de ciclo criativo e experimental com a repetição de convenções visuais. Depois dele os filmes de Argento foram revisitações a modelos. Nesse conceito, Terror na Ópera é um dos mais bem produzidos pesadelos de toda sua filmografia. Remete à sua melhor fase artística e exemplifica perfeitamente a intenção sensorial que caracterizou seu cinema, além de ser um show invejável de técnica e ideias malucas. A mais famosa são as agulhas enfileiradas na fita colante para impedir Beth de fechar os olhos e assistir aos crimes, exatamente como fazemos enquanto espectadores. Beth seria então a espectadora do assassino assim como nós somos aprisionados pelo diretor em sua encenação delirante que dispensa alinhamentos lógicos, explicativos ou que conduzam a um retorno seguro na narrativa. Beth, assim como o assassino, também tem seus desequilíbrios emocionais e o cérebro pulsante em close pode ser de qualquer um dos dois, dependendo do foco narrativo.
E no desfile de excessos techno-visuais temos os lugares conhecidos do cinema de Argento, como os corredores de cortinas vermelhas, a jovem desamparada sob a chuva, a visão distorcida sob o efeito do colírio, visões subjetivas de personagens avulsos à trama principal, "enganos" na memória da protagonista, e as inserções inesperadas como a garotinha na passagem de ar, o disparo pelo olho de vidro da porta, a ponta da lâmina atravessando o maxilar e aparecendo na boca da vítima, o cadáver "enfeitando" a paisagem bucólica (como O Açougueiro de Chabrol), até a surpresa maior com o desequilíbrio de Beth e o salvamento da lagartixa no fim!
Assim, Terror na Ópera é uma visita a um espaço demente no suspense cinematográfico. Um lugar já conhecido e consagrado na memória dos fãs, um parque de diversões macabro que só poderia existir na forma de filme.
• Daria Nicolodi, ex de Argento, aceitou participar por causa da elaboração técnica envolvendo sua morte (trivia IMDB), um dos grandes momentos do filme.
Black Phillip já sabia 👿👿👿👿👿
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