Pearl (EUA, 2022)
Diret Ti West
Com Mia Goth, Tandi Wright, David Corenswet, Emma Jenkins-Purro, Mathew Sunderland, Amelia Reid.
Tem medo de mim? Acha que eu estou doente?...
Fora da caixa. Suspense dramático que surpreende em sua forma inusitada. Pearl é a prequel de X, agora destacando a personagem assassina que vive com o marido na fazenda. Ela é uma jovem presa à vida interiorana, reprimida pelas disciplinas rigorosas de sua mãe e tendo que cuidar do pai catatônico. Sem maiores chances de mudança, e com o marido lutando na Primeira Guerra, Pearl sonha em se tornar uma estrela na nascente indústria do cinema, mas suas limitações a lançarão a um processo de insatisfação crescente onde só a violência lhe proporcionará alguma realização.
Mais drama do que horror, Pearl se arrisca em ambições formais pouco comuns ao thriller, mas cumpre tudo a que se propõe de forma exemplar, a começar pela ambientação de época e uma trilha sonora que remete aos clássicos dos primeiros anos, como Max Steiner por exemplo, e sem surpresa, os crepúsculos e paisagens coloridas sutilmente fazem lembrar E o Vento Levou. A grande diferença é que Pearl não mostra a América dos lutadores e desbravadores, na verdade destaca os deserdados, as estruturas de exclusão e suas consequências. Nesse sentido, a imersão narrativa é exemplar e Mia Goth dá um show de presença como a sonhadora e instável personagem central. E o roteiro compõe sua realidade alternando detalhes e obviedades, como a cena do espantalho, que deixa claras as insatisfações principais da jovem e sua condução para a alienação e soluções por vias violentas.
Também é curioso que, enquanto X se esforçava para satisfazer o fã de horror, especialmente por sua ambientação setentista, agora o diretor conduz o filme pelas necessidades dramáticas mais do que ao cumprimento de receitas ou gratuidades indulgentes. Assim, vai demorar para o horror se instaurar, mas quando chega é pleno e clássico, como Pearl perseguindo a amiga com machado em punho, ou as sequências de fragmentação de tela e mutilações, além de Theda, o pet jacaré que ela alimenta no lago próximo à casa.
Estranho em sua forma incomum ao suspense-terror, Pearl vai agradar a quem curte filmes que se arriscam fora de convenções genéricas e que ainda vai deixar a risonha súplica demente de Pearl, no reencontro com o marido Howard, como ícone do horror contemporâneo.
• Suspense patricida: Pearl leva o pai para passear perto do lago.
• Duelo de insatisfações: Pearl e sua mãe expõe seus dramas na discussão ao jantar!
• Choque de realidade: o teste para corista.
• Referência: o porco apodrecendo em paralelo à saúde mental de Pearl, como o coelho de Repulsion.
• O diretor prepara MaXXXine, para fechar a trilogia.
Expectativa 🪓🪓🪓 Realidade 🪓🪓🪓🪓
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