Don't Look Now (Inglaterra, 1973)
Com Julie Christie, Donald Sutherland, Hilary Mason, Clelia Matania, Massimo Serato, Renato Scarpa, Leopoldo Trieste.
Alerta vermelho. Clássico do fantástico moderno, baseado em novela de Dauphne Du Maurier (Not After Midnight). É possível que Inverno de Sangue em Veneza não tenha tido maior repercussão por ter sido obscurecido por O Exorcista, que é do mesmo ano? Pode ser... vai saber, como diria John, "nada é o que parece". O bom é que o filme passa no teste do tempo e mantém sua força intacta, principalmente por sua construção cinematográfica.
Repleto de pistas e significações, o filme conta o drama de John e Laura em sua temporada em Veneza, depois do falecimento de sua filha. Ele trabalha como restaurador em uma igreja veneziana e a esposa o acompanha, ambos tentando superar o falecimento da pequena Christine. Assassinatos ocasionais apavoram os moradores da região e quando Laura conhece uma vidente, é advertida para que saiam da cidade. Aparentemente o espírito da filha está tentando avisar de um grande perigo que ronda o casal. John desconfia da relação da esposa com a vidente, e o decorrente desentendimento entre o casal é a tônica do filme.
Perdidos e desorientados, John e Laura estão à mercê do entorno e o filme constrói essa situação de forma incômoda em inúmeros signos. Mais do que a simples ameaça física – e sobrenatural, nas advertências e reações à volta do casal – o filme apavora pela clara sugestão de insegurança emocional, insegurança de relações e, por extensão, insegurança existencial. A controvertida cena de sexo é na verdade um adeus. A partir dali, John e Laura se desentendem e se distanciam. E a estética empregada pelo diretor também convida a decifração. Mais do que revelar, a narrativa imagética diz muito: John empurra Laura para fora da cena e fora da cena ela fica (43min). Olhos arregalados observam John no mosaico (1h02m26s). Laura acende velas para a filha e uma das velas se apaga (23min). Em um momento de descontração íntima, John é "tragado" por uma reflexão multiplicada (28min). Espelhos, e superfícies líquidas, também são muito usados na fragmentação e desorientação espacial pelo filme. E mais ainda, os canais, vielas e a disposição espacial de Veneza servem muito bem à perturbadora perdição labiríntica do filme.
E temos também os enigmas internos. A misteriosa figura de capuz vermelho já aparece no slide que John examina no início. O borrão vermelho no slide engole tudo como em um prenúncio. A estátua no parque (aos 40min) é muito parecida com a anã de capuz. Um dos habitantes grita "ela está possuída pelo demônio". Os reflexos invertidos da anã remetem aos de Christine (1h41m). John diz que o bispo "não dá a mínima" para a igreja, o bispo é uma figura misteriosa em seus olhares e observações. Em seu escritório, a câmera dá especial atenção ao cetro em espiral sobre sua cabeça e quando ele acorda sobressaltado, uma vela vermelha está acesa no quarto!
• Melhor cena: a queda do andaime! Shuterland fez a cena com um mínimo de segurança física.
• Menção honrosa: a trilha barroca de Pino Donaggio.
• A cena de amor deixou Warren Beatty pistola! Na época ele namorava Julie Christie e chegou a agredir o diretor Roeg! (trivia IMDB)
Black Phillip já sabia 👿👿👿👿👿
Olha um tijolo torto! Já sei: é "enigma imagético"! |
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