Repulsion (Inglaterra, 1965)
Com Catherine Deneuve, Ian Hendry, Yvonne Furneaux, John Fraser, Patrick Wymark, Renee Houston, Valerie Taylor.
Deprê nostalgia. Grande momento do thriller psicológico que ajudou a formar o personagem do diretor como um estilista de demências e pesadelos. Catherine Deneuve é Carol, jovem empregada de um salão de beleza que gradualmente cede ao isolamento e se enclausura em seu apartamento. As investidas masculinas serão rejeitadas até pela violência e Carol se entrega a uma reclusão sem retorno.
Depressivo e sufocante, Repulsion marcou a carreira do diretor como um clássico emblemático de seus temas. Um cartão de visitas do que ele desenvolveria pela carreira. Francamente desagradável nas imagens expressionistas, mas sutilíssimo em sugestões, Repulsion é calculado para causar desconforto nos sentidos. E o filme alterna excessos e ausências em uma receita exemplar. De silêncios opressivos a jumps sonoros, como no vulto que aparece no quarto e o grito da cliente do salão, o filme fragmenta a percepção assim como Carol progride em sua degeneração. A pista mais evidente é o coelho que apodrece ao longo do filme.
Carol, apresentada como um alienada e desinteressada pelo mundo ao seu redor, seja na atividade profissional ou nas performances sociais, passa a rejeitar as investidas do apaixonado Colin a ponto de agredi-lo fisicamente quanto ele entra no apartamento. Invasões aliás, tem vários sentidos no filme, como nos imaginários insetos que ela afugenta ocasionalmente, e até os objetos de uso pessoal do namorado da irmã de Carol, que invadem o copo dela no banheiro, podem ter conotações extras.
E a pobre Carol passa a se isolar do ambiente externo e delirar em visões de um intruso que a violenta, rachaduras pelas paredes, alterações espaciais que ora ampliam os recintos, ora parecem esmagá-la com a aproximação do teto. O trabalho de câmera consegue um resultado claustrofóbico mesmo nos espaços públicos com os closes de Carol ocupando o quadro (uma manobra técnica que tanto serve poeticamente à narrativa como serve a disfarçar a precariedade de produção na filmagem entre o público). Em um beco sem saída emocional, a jovem rejeita o externo, hostil, mundano, antagonista (a cena de aproximação do rosto de Carol de uma chaleira que a deforma é significativa) e se embrenha em um isolamento torturante cercando-se de morte em diversas manifestações, como o coelho sem cabeça, os legumes apodrecidos e os corpos de suas vítimas!
Black Phillip já sabia 🐇🐇🐇🐇
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