Martin (EUA, 1976)
Com John Amplas, Lincoln Maazel, Christine Forrest, Elyane Nadeau, Sarah Venable, Tom Savini, Roger Caine, Francine Middleton.
O melhor dos excluídos. Nem sempre George Romero se deu bem nos filmes que saíram do seu universo living-dead. Algumas excentricidades marcaram seu currículo como The Crazies, Knightriders ou Creepshow. No caso deste Martin, temos simplesmente um dos melhores momentos do diretor em originalidade e personalidade.
Martin é um jovem desajustado que vai viver sob os cuidados de Tata Cuda, um velho primo supersticioso que o submete a disciplina rigorosa. Uma suposta maldição na família mantém o velho Cuda firme na convicção de o jovem parente é um vampiro milenar e ele pendura alhos pelas portas da casa e carrega crucifixos o tempo todo, chamando o moço de Nosferatu! Nesse regime de preconceito e exclusão só resta ao pobre Martin, tímido e retraído, se isolar ainda mais. Nos serviços de entrega do armazém de Cuda ele começa a conhecer a população local e algumas belas donas de casa que despertam seus desejos reprimidos.
Em uma variação genial no mito do vampiro, o filme inverte o clichê colocando o irredutível preconceito de Tata Cuda como o maior vilão da narrativa, enquanto que o jovem desajustado é a vítima. Mas Martin é apresentado, logo na sequência de abertura como um perigo consumado em suas ações homicidas muito bem calculadas! Dopa uma passageira de trem para intimidades a que não teria acesso naturalmente. Mutila seu punho e bebe seu sangue! Se reconhece como um doente que precisa de ajuda e diz ter oitenta e quatro anos! Mas nada nem ninguém estará capacitado a resgatar Martin de um destino trágico. Como sua contemporânea Carrie, o jovem desajustado terá que se confrontar com uma cultura social limitada, despreparada e excludente.
Com um acabamento estético clássico do cinema B, Martin é um desfile saudosista em imagens de sombras opressivas e externas naturalistas que estigmatizaram o filme independente do período. Invejável em sua dinâmica narrativa e situações inusitadas, como Martin ligando para um programa de rádio que lhe serve tanto como pedido de socorro quanto de confessionário, o filme ainda mantém um enigma suspenso nas sequência em preto-e-branco, supostas lembranças do protagonista em tempos remotos.
No elenco, destacam-se Christine Forrest, esposa de Romero, como neta de Cuda, a única que consegue questionar os excessos fanatizados do avô, e Tom Savini como seu o namorado problema. E ainda o próprio diretor fazendo um padre bonachão, mais interessado em provar destilados do que ajudar o jovem "endemoniado". Dinâmico e intensificado no conflito de crenças entre os protagonistas, Martin se divide entre drama e horror e rescende daquele charme desajeitado inseparável do cinema independente.
Black Phillip já sabia 🧛🧛🧛🧛
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