Todo o horror da noite anterior voltou a minha memória. O mesmo suor frio tomou conta de mim. [...] Então comecei a ouvir passos subindo as escadas, a porta foi aberta de uma só vez e novamente a Freira Sangrenta aparecia diante de mim.
• Clássico gótico de referência no gênero, aqui em uma edição caprichada da editora Pedrazul. O Monge tem diversas passagens macabras de visões, aparições, exorcismos e rituais ocultos, mas para chegar até elas, o leitor terá que atravessar longas passagens de obviedades narrativas em capítulos extensos de situações paralelas, como o drama dos apaixonados Ramón e Agnes e os desentendimentos decorrentes da situação. O ingresso de Agnes na vida religiosa, ["Indignada pelo meu comportamento e desgostosa com o mundo em geral, Agnes aceitou tomar o véu."], e o equívoco em tentar resgatá-la que acaba libertando um espírito maligno que passa a assombrar o pobre Ramon! ["Ela nunca o abandona, nem durante a noite e nem durante o dia. Nem irá abandoná-lo até que consiga o que deseja."]
Dividido em três partes internas, o livro é carregado de explicações e justificativas em tal excesso que o fazem se arrastar além do necessário. A história praticamente se divide em duas narrativas: o citado drama dos enamorados e o tormento do protagonista, Frei Ambrósio, célebre monge espanhol que mobiliza multidões a suas missas no coração de Madri. Oscilando entre a devoção religiosa (e sua figura adorada pelas massas) e a tórrida paixão por Matilda, uma jovem que se infiltrou no mosteiro disfarçada de noviço, Ambrósio é uma contradição ambulante que acaba cedendo aos impulsos, desejos e às ações ocultistas de Matilda.
"Ela colocou o espelho nas mãos do monge. [...] Matilda pronunciou as palavras mágicas e, imediatamente, uma fumaça espessa surgiu a partir dos símbolos traçados nas bordas do objeto. A fumaça espalhou-se por toda a superfície e, depois, dissipou-se gradualmente. Uma confusão de cores e imagens surgiu diante dos olhos do frade, as quais finalmente organizaram-se nos lugares apropriados e refletiram uma miniatura da forma adorável de Antonia."
Famoso em sua época pelo escândalo de seu conteúdo blasfemo em ataques velados à doutrina religiosa [Ansiava pela chegada do momento de desmascarar os hipócritas e convencer seus compatriotas de que uma fachada de santidade nem sempre esconde um coração virtuoso], causou incômodo especialmente pelo tormento sensual do protagonista em sua fragilidade de fé. Infelizmente o texto não envelheceu muito bem em suas obviedades narrativas, talvez por se concentrar demais nos relacionamentos entre os personagens e pouco nas descrições atmosféricas que surgem raramente.
Ninguém viu quando entraram no cemitério. Abriram a porta do sepulcro e alcançaram a entrada da escada subterrânea. Até aquele momento, tinham sido guiados pela luz da lua, mas uma vez dentro da cripta, não podiam mais contar com aquele recurso.
Mas seja como for, é um clássico do gótico literário, influente, ousado e que reserva suas surpresas insólitas especialmente no terço final.
• Teve duas versões para o cinema: Il Monaco (1972, com Franco Nero) e Le Moine (2011, com Vincent Cassel).
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