Becky

Becky (EUA, 2020)

Diret Jonathan Milott, Cary Murnion
Com Lulu Wilson, Kevin James, Ryan McDonald, Amanda Brugel, Robert Maillet, Joel McHale, James McDougall.

Menina veneno. Aventura em nível porradaria que engaja qualquer espectador ávido por sangreira gratuita, mas esta (e sua sequência) é daquelas produções que fica num estreita e perigosa linha entre a indulgência e as promessas não cumpridas. Becky é uma adolescente que perdeu a mãe recentemente e não está nem um pouco ajustada ao drama quando seu pai anuncia o noivado com uma nova companheira. A reunião do grupo em um chalé na floresta pode se tornar um encontro traumático para a jovem.

E o drama se intensifica quando um grupo de fugitivos de uma irmandade neo-nazista precisa entrar na casa e recuperar um chave que guarda informações sobre a facção. Isolada em sua casa na árvore, Becky acompanha a violência crescente dos fugitivos até que precisa agir contra eles. E sua reação é insana e sangrenta como a gente quer ver! 

Becky é uma produção duvidosa em sua gratuidade com refinamento técnico. É um modelar filme B de justificativa mínima e opção pelo suspense e ação, mas aí fica aquela dúvida: se é B, preguiçoso em roteiro e assumindo o prazer desvirtuado pela porradaria, então as variantes internas acabam deslocadas, como o arrependimento do grandalhão Apex, ou o avulso Hammond, um personagem que nem é tanto associado à violência do grupo, mas tem uma morte espetacular nas hélices do barco. São pequenos detalhes que causam irregularidade, e provocam grandes dúvidas na percepção do conjunto fílmico. Sobra como ponto positivo a dinâmica narrativa e a jovem Lulu Wilson, que consegue sugerir uma fúria insuspeitada sob aquela carinha de desamparo. A dúvida mais incômoda é a que ponto o cinema de entretenimento vai chegando em suas produções banais e recepção idem...

• Melhor cena: a gritaria de Becky, surtada no final.

• Melhor gore: o líder nazi com o olho pendurado!!!
• Melhor sacada: Becky se arma com o que tem disponível, e assim, réguas e lápis de cor viram armas fatais!

E por algum motivo misterioso, por preguiça dos espectadores talvez, ou distribuição bem feita, Becky se deu bem na receptividade pelo mercado e teve uma sequência. Dirigido em 2023 por outra dupla, Matt Angel e Suzanne Coote, The Wrath of Becky é simplesmente mais-do-mesmo agora com a garota atacando de experiente e implacável justiceira. Depois dos eventos do filme anterior, Becky agora, sem família e sem ninguém, é uma andarilha que de adoção em adoção, muda constantemente de famílias e atividades. Até que em um trabalho como garçonete tem um atrito com um trio de marginais que a persegue. Becky então precisa revidar o ataque e acaba por descobrir que o trio participa de uma facção fascista cujo líder está em busca da chave (aquela do primeiro filme) que contem registros da organização espalhada pela nação.

The Wrath of Becky surpreende por se resumir a essa situação básica de cerco aos fascistas em um chalé à beira de um lago e ataques sequenciais como em um filme slasher, mas onde a heroína é o killer! Sendo assim, o Felipe Preto ficou naquele estado de apreciação intermediária sem saber o achar do que se desenrolava na tela... é pra achar graça da "violência estilizada"? É pra aceitar sem reclamar dos absurdos e da habilidade da garota em despachar seus inimigos? É esse o cinema pós-Tarantino, pós-Kick Ass? Seja como for, seja pela apreciação que for, fica a séria dúvida de que a forma em ambos os filmes é questionável, como grande parte do que se vê no cinema pop atual! É pra rir, ou pra se horrorizar? A gratuidade é suspeita, os excessos resvalam na piada, a oscilação dramática impede o devido posicionamento do espectador, mas acima de tudo, em filmes que propõem adrenalina e ação surtada, as curvas de evolução dramática deixam a desejar, especialmente no segundo filme.

Resumindo: Becky e The Wrath of Becky só vão satisfazer quem exige pouco e servem de termômetro da preguiça no pop contemporâneo.

• Melhor cena: granada na boca!
• Eu ri, mas acho que não devia: faca na cabeça da velha senhora.

Becky 1 - Expectativa 😈😈      Realidade 😈😈😈
Becky 2 - Expectativa 😈😈😈     Realidade 😈😈