Manfredo - clássico do romantismo com um dos seus mais trágicos anti-heróis!

Espíritos do universo imensurável! Que hei procurado nas trevas e na luz... que esvoaçais em torno do globo e viveis em mais sutil essência... cuja morada é no vértice de inacessíveis montes, e a quem são familiares as cavernas da terra e do oceano... eu vos evoco por esse encanto escrito que ao meu domínio sujeita... Levantai-vos! Aparecei!

Poema dramático de leitura ligeira, Manfredo desfila temas essenciais ao romantismo e que sem surpresa, destacam Byron um dos autores mais emblemáticos do século XIX. Seu personagem é um ocultista atormentado por um crime não totalmente explicado e a perda de sua amada, e que busca redenção de alguma forma. Para isso ele invoca espíritos e circula entre entidades míticas na busca de expiação, redenção, explicação. Mas a inutilidade de todas as fontes, sejam científicas, míticas, vivenciais ou ocultas, o condenam a um isolamento espiritual insuportável. 

Os espíritos que evoquei abandonaram-me... as ciências mágicas que estudei escarnecem-me... falhou-me o remédio em que confiava, não me fio mais em auxílio sobre-humano, ele não tem poder sobre o passado, e o futuro, esse, enquanto nas trevas se não abismar o passado, não tenho como procurá-lo... 

Mas mesmo uma possível morte – tema recorrente aos românticos, como meio transformador – não lhe será suficiente. Em seu castelo nos Alpes, Manfredo é um recluso em busca de significado ao tormento existencial. Uma figura que, assim, acaba por encarnar todo o movimento romântico em uma única personagem, em uma única encenação!

Pensamentos irresistíveis a me torturar o espírito acompanham-me incessantes: trago no coração a vigília, e se fecho as pálpebras é só para olhar interiormente, entretanto vivo e tenho o aspecto do homem vivo.

Manfredo pode ser pouco aconselhável a quem prefere leituras descritivas, mas ainda assim é inegável o encanto sobrenatural manifestado nos diálogos, ainda que economicamente. Distante de uma mera fantasia pop, a obra é profunda nas indagações e buscas do artista romântico e do pensamento que orientou a produção do período. A edição caprichada da editora Clepsidra reedita a tradução de Antônio Franco da Costa Meirelles de 1870.

Leitura Radical
Curto e com um mínimo de descrições
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Leitura Passional
Clássico delirante
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Manfredo
Manfredo, Lord Byron, 1817
Editora Sebo Clepsidra, São Paulo, SP, 2021
100 páginas