In the Earth (Reino Unido, 2021)
Com Martin Lowery, Ellora Torchia, Reece Shearsmith, Hayley Squires.
2001 vegano. No cinema weird de Ben Wheatley nada mais natural do que este filme provocativo e de enigmas visuais se inserir no currículo desse diretor, que é simplesmente um dos mais inventivos e aventureiros do fantástico contemporâneo. O filme é um produto natural à era Covid, com produção simplória e elenco mínimo, mas Wheatley inverte a regra claustrofóbica e ambienta o filme em externas amplas e fartamente iluminadas.
Durante uma forte epidemia mundial, o químico Martin precisa retomar o auxílio à doutora Wendle em sua precária instalação florestal. Acompanhado da guarda florestal Alma, ele parte em uma caminhada de dois dias floresta adentro na direção do laboratório de Wendle, mas o caminho está "protegido" por Zach, antigo ajudante da doutora e agora enlouquecido em sua comunhão com a natureza. Ninguém passará por Zach sem que ele tente converter o transeunte à associação com um suposto poder-entidade que habita a floresta.
In the Earth é assim, uma viagem (com e sem trocadilho) a um espaço diferenciado, alheio à consciência, à tecnologia, à medição de tempo do homem urbano. Zach defende a abdicação da racionalidade para a devida percepção e comunhão à ancestralidade orgânica que a floresta rescende, mas, por sua vez, acaba se mostrando um agente bastante perigoso ao recorrer à violência no cumprimento de sua suposta missão. A doutora é a personagem que assume a ciência como meio de contato com a "voz florestal", a entidade que habita a imensidão vegetal e que se manifesta em emissões sonoras de galhos e raízes, e em nuvens de esporos alucinógenos. Em seu aparato de luzes estroboscópicas e geradores de onda sonora, a doutora tenta uma linguagem alternativa, mas para a racionalidade (ou limitação) humana o ambiente acaba se revelando caótico e desagregador aos sentidos. Alma se submete a atravessar a nuvem de esporos e o resultado é apavorante em seus delírios. "Não é humano", termina ela dizendo após as visões.
Somando na receita, um misterioso totem de sugestão fálica (cilíndrico, ereto e com um furo no alto), crendices ancestrais e até o Martelo das Feiticeiras (Malleus Maleficarum) como orientação para as pesquisas entre ciência e misticismo, o filme culmina em uma sequência psicodélica hipnótica em sua sucessão subliminar de imagens envolvendo o totem de pedra. Colocando a mulher como elemento transformador e o homem como mero utilitário passivo, o filme se alinha a discursos contemporâneos, revisões científicas, eco-consciência. Como outros filmes do diretor, In the Earth é desafiador e certamente trará mais revelações a cada revisão.
Expectativa 🌳🌳🌳 Realidade 🌳🌳🌳🌳
Pode usar pause no cinema contemporâneo?... |
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