10 de setembro de 2023

Totem - terror mediano do pai do Rambo

David Morrell
Agarrou o corpo pelos tornozelos e, arrastando-o, atravessou a cozinha. A cabeça foi batendo ao descer a escada. Chegou ao fundo do porão, e a escuridão lhe deu um bem-estar. Ofegante, puxou o cadáver para junto dos outros, no canto, um homem e uma mulher estendidos lado a lado, e colocou esse outro homem ao lado da mulher. Sentiu-lhes o cheiro do sangue e olhou para aqueles pescoços e rostos dilacerados, para a faca que ainda estava enterrada no estômago do segundo homem.

• David Morrell ficou na história como o criador do personagem Rambo em seu bem-sucedido romance First Blood. Em Totem ele faz uma incursão disfarçada no mito do lobisomem e o resultado é mediano, para dizer o mínimo. Totem conta a aventura do xerife Slaughter, um policial da cidade grande que se mudou para uma cidadezinha interiorana e se depara com misteriosos casos de ataques animais pela região. Uma espécie de vírus está se alastrando nos ataques e enraivecendo cães e gatos. Os humanos infectados acabam sofrendo alguma mutação tornando-se feras raivosas. A cidade precisa se mobilizar e as suspeitas levam a um antigo acampamento hippie situado na periferia do espaço urbano.

Quando o garoto saltou sobre ele, seu reflexo foi o de empurrá-lo para longe de si, mas com o escalpelo na mão, atingiu-o o estômago nu. E o sangue começou a jorrar.

Morrell tempera seu texto com algumas passagens sangrentas, mas peca nas descrições displicentes que parecem ter sido feitas às pressas. Também erra nas definições superficiais de personagens e o resultado geral é uma leitura ligeiríssima em seus capítulos curtinhos, que simulam uma montagem cinematográfica. Mas isso nem desqualifica a obra em sua facilitação a um futura adaptação para cinema, o pior mesmo é a displicência narrativa que pode ter sido ainda mais agravada por uma tradução suspeita. E a história flui ligeira (até demais) com um grave descaso pelos personagens e fracas explorações em atmosfera que poderiam ter rendido um suspense muito mais envolvente.

Achou o botão do farol de busca, ligou-o e o lado direito da mansão ficou iluminado, até quase o segundo andar, destacando-se na penumbra.

Da mesma forma que o Black Phillip defende o cinema ruim como uma forma interessante de estudar os erros e perigos que aguardam os empenhados em seguir carreira cinematográfica, livros como este Totem podem servir como uma lição de casa em escrita criativa, para os estudantes em literatura identificarem didaticamente falhas em apresentação ou estrutura convencional.  

Leitura Passional
Parece um filme B

Leitura Radical
Deficiente, displicente e superficial.
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TOTEM
The Totem, David Morrell, 1979
Editora Best Seller/Nova Cultural, 1990
213 páginas

Totem

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