Leave the World Behind (EUA, 2023)
Com Julia Roberts, Ethan Hawke, Mahershala Ali, Myhala, Farrah Mackenzie, Charlie Evans, Kevin Bacon.
Apocalipse sensorial. Um dos mais incômodos e apavorantes thrillers da atualidade! O Mundo Depois de Nós reforça uma espécie de subgênero atual onde medos e traumas da contemporaneidade são as bases da narrativa. O medo não é mais da morte e sim da instabilidade, da incerteza, da mudança.
Amanda Sanford (Julia Roberts) acorda certa manhã disposta a passar uma temporada em uma casa alugada longe da metrópole. Faz as malas e comunica a família: seu esposo e dois filhos. O local é paradisíaco, a casa dos sonhos, mas logo que se acomodam, as coisas começam a se desarranjar ao redor: seus celulares ficam sem sinal, as TVs não parecem exibir seus noticiários corretamente, um barco petroleiro invade a praia (!!!) e assim que o dono da casa, acompanhado da filha adolescente, aparece no meio da noite como se ali fosse o único abrigo confiável, algo se mostra realmente fora da normalidade... no mundo! De um convívio forçado, o grupo reunido acaba em uma consequente situação de cumplicidade quando o sinal da TV é substituído por um alerta em rede. E quanto mais investigam, mais sentem uma degradação irreversível e crescente em suas relações, suas verdades e sua segurança.
Então, o que aparentemente era mais um filme de apocalipse, se configura assustadoramente como um inventário de dramas e medos contemporâneos. A lista de medos é crescente e não há quem esteja conectado as mídias modernas que não identifique um (ou dois, ou vários...) traumas da cultura moderna. Se a era digital trouxe alternativa nos modos de informação, trouxe junto o excesso de dados e a dispersão de verdades. E O Mundo Depois de Nós (tradução meio equivocada, diga-se) junta no mesmo balaio uma infinidade de desarranjos como a falência das tecnologias, a desconfiança nas estruturas governamentais, diversas teorias de conspiração (das mais simplórias às possíveis), instabilidade política, ataques terroristas, e em escala humana, a desinformação, a desconfiança, a individualização (como o personagem do sempre bom Kevin Bacon), e a incomunicabilidade por circunstâncias diversas. Em um conjunto ameaçadoramente caótico, a sequela emocional é a alienação, como faz a jovem Rose, alimentando-se do que não é alimento, trancando-se em sua bolha-bunker e entregando-se a felicidade artificial de sua série favorita.
Tecnicamente impecável e com uma direção em ciclos crescentes de surto emocional, O Mundo Depois de Nós é um retrato apavorante de um mundo em transição que ainda não vislumbrou para onde está sendo conduzido.
Expectativa 👿👿 Realidade 👿👿👿👿
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