Uma explosão de silvos, grunhidos e arrastar de pés chamou a atenção deles à direita. Dois rakoshi se defrontavam, expondo as presas, cortando ar com suas garras de ave de rapina. Outros se juntaram em volta, sibilando também. Parecia que uma briga ia começar.
Thriller bacaninha, segunda parte do "ciclo do inimigo", iniciado com o cultuado O Fortim. Mais ou menos como na mitologia lovecraftiana, F. Paul Wilson criou seu mundo de entidades milenares e narrou as aventuras dos que com elas se defrontam quando de sua inserção no mundo contemporâneo. O Sepulcro conta a aventura de Jack Nelson, ou simplesmente Jack Faz-Tudo, um profissional atuante fora dos circuitos oficiais que atende como detetive, e ocasionalmente como "justiceiro de encomenda". Logo no início Jack recebe duas tarefas sobre desaparecimentos que estarão ligados sem que ele desconfie. Um colar roubado de uma matriarca indiana e o desaparecimento de uma senhora inglesa que não deixou rastros, levam Jack a um mistério maior envolvendo Kusum Bahkti, último guardião de uma linhagem de entidades protegidas da deusa Kahli. Kusum transporta as entidades, chamadas rakoshi, para Manhattan de forma a concretizar a vingança contra os descendentes de um militar que no Século XIX profanou o templo de Kahli e roubou arcas de pedras preciosas.
Com sua narrativa convencional em um texto ligeiro – em capítulos grandes divididos em blocos pequenos – o modelo detetivesco é explorado à perfeição. A trama, e seu desenvolvimento, equivale a um simpático filme B em sua fluência e simplicidade repleta de erudições dispensáveis e situações paralelas (como o relacionamento com o pai de Jack) que servem mais ao preenchimento de páginas do que ao drama central. Também não faltam as puerilidades de cinema B que tanto servem ao tempero do gênero.
E então veio outro som. Subiu lá de baixo, escapando pela boca do túnel que terminava no poço, crescendo em volume. Uma cacofonia grunhida de gemidos, rugidos e roncos que faziam com que cada fio de cabelo de sua nuca se erguesse.
O Sepulcro cativa de imediato por sua estrutura de espionagem clássica, sem rodeios e texto fluente, conseguindo um crescente exemplar, daqueles que envolve gradualmente e agarra o interesse até a conclusão, com suas referências às narrativas noir. Porém, os ingredientes simplórios, no conjunto, resultam bem menos impactantes do que em O Fortim, e acabam situando-o como uma exemplar novela pulp de entretinimento ligeiro.
Simplão como um filme.
Leitura Passional
Slow burn com um final dinâmico.
O Sepulcro
The Tomb, F. Paul Wilson, 1984
Editora Record, Rio de Janeiro, 1989
342 páginas
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